O Estado de S. Paulo, n. 46641, 29/06/2021. Internacional, p. A11

Polícia dispara 125 vezes e mata foragido em GO, após cerco de mais de 2 semanas

Shisleny Gomes 


Lázaro Barbosa, de 32 anos, que ficou conhecido como o “serial killer do DF”, morreu após ser cercado pela Polícia Civil de Goiás na manhã de ontem. Segundo a Secretaria de Segurança Pública goiana, ele descarregou uma pistola contra os policiais. Houve confronto e os agentes de segurança teriam realizado 125 disparos contra o foragido. O governo estadual afirmou que ele chegou a ser socorrido com vida a um hospital, onde morreu.

O Estadão teve acesso ao boletim de ocorrência da ação entre os policiais e Lázaro Barbosa. O documento cita 125 disparos efetuados por pistola Sig Sauer calibre 9 mm, pistola Taurus 92 AF calibre 9 mm e fuzil calibre .556. O acusado estava com uma mochila onde foram encontrados, além de uma quantia em dinheiro, remédios, arma de fogo, carregador de pistola sobressalente, coldre de arma de fogo, gandola (uma espécie de capote) camuflada e munições. Além disso, havia balaclava, luva de pano, liga de borracha, isqueiro, faca, um frasco com óleo, macarrão instantâneo e tempero pronto.

O cerco policial para prendêlo, com mais de 200 agentes, durou mais de duas semanas e as buscas se concentraram na região de Cocalzinho de Goiás (GO), entre o Distrito Federal e Goiânia. A Polícia Militar usou helicópteros e cães farejadores e contou com o auxílio da Polícia Federal para capturá-lo. Segundo agentes que acompanham as buscas, o criminoso conhecia bem a área, onde mora sua família, e tinha facilidade para se esconder na mata.

Lázaro era acusado de matar, a tiros e facadas, três pessoas na zona rural de Ceilândia no dia 9 deste mês. Os mortos eram Cláudio Vidal de Oliveira, de 48 anos, e os filhos Gustavo Marques Vidal, de 21 anos, e Carlos Eduardo Marques Vidal, de 15 . O foragido também é apontado como o responsável pelo sequestro da mulher de Cláudio, Cleonice Marques de Andrade. O corpo dela foi encontrado no dia 12 à beira de um córrego, próximo da casa onde a família morava. Com as investigações, outras mortes e invasões em sítios foram atribuídas ao “serial killer”, incluindo o assassinato de um caseiro em Girassol, no dia 5 de junho.

No dia 15, Lázaro fez uma pessoa refém em Edilândia (GO), na mesma região de Cocalzinho, e trocou tiros com policiais. Um agente foi atingido, sem gravidade. Na quinta-feira, um fazendeiro e um caseiro foram presos pela força-tarefa, suspeitos de ajudar Lázaro a se esconder da operação. A Secretaria de Segurança chegou a dizer que “uma rede criminosa” ajudaria o suspeito.

“Como eu disse, era questão de tempo até que a nossa polícia, a mais preparada do País, capturasse o assassino Lázaro Barbosa”, escreveu o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), nas redes sociais. “Parabéns para as nossas forças de segurança. Vocês são motivo de muito orgulho para a nossa gente! Goiás não é Disneylândia de bandido”, acrescentou Caiado. As comemorações de forças policiais e do presidente Jair Bolsonaro (Mais informações nesta página) também motivaram reações na internet.

A Ordem dos Advogados do Brasil, seção de Goiás (OABGO), informou que vai acompanhar a investigação da Polícia Civil para apurar se as circunstâncias da morte ocorreram “nos limites da legalidade”. O presidente da Comissão de Direitos Humanos, Roberto Serra, lamentou que o desfecho tenha sido “espetacularizado”, como se a morte de alguém fosse algo banal.

Alívio. A reportagem tentou, sem sucesso, contato com os pais de Lázaro. Mas foi com alívio que moradores de Barra dos Mendes, cidade natal dele, receberam a notícia da morte. “Desse estamos livres, ninguém mais vai morrer pela mão dele”, disse o sitiante Pedro de Oliveira, irmão de uma das vítimas. “Teve gente que comemorou, mas eu não vejo motivo, pois a gente acaba revivendo o que aconteceu. Mas até parentes dele estão aliviados”, disse.

Pedro socorreu o irmão, José Carlos Benício de Oliveira, assassinado com um tiro por Lázaro em novembro de 2008. Ele o teria matado porque havia protegido uma mulher que o criminoso tentava estuprar. “É um trauma que a gente carrega. É complicado ficar lembrando e revivendo isso. Muita gente tinha medo de que ele voltasse.” / Colaboraram Lauriberto Pompeu e José Maria Tomazela