O Globo, n. 32775, 02/05/2023. Política, p. 8

'Todas as pessoas que tentaram dar golpe serão presas', diz Lula

João Sorima Neto
Guilherme Caetano


Em ato realizado ontem, Dia do Trabalho, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que todos os que tentaram dar um golpe contra a democracia brasileira serão presos. O petista se referia aos que de alguma forma participaram dos ataques de 8 de janeiro aos prédios dos três Poderes, em Brasília.

O discurso de Lula ocorreu na semana seguinte à leitura do requerimento no Congresso que autoriza a criação de CPI para investigar ataques golpistas. Durante meses, o governo evitou a abertura da comissão sob o argumento que ela poderia atrapalhar o andamento de pautas consideradas importantes para a retomada do crescimento do país, como o novo arcabouço fiscal.

A postura dos governistas mudou, contudo, após a divulgação de imagens do então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, no Palácio do Planalto durante a atuação dos vândalos. O vídeo levou à saída do oficial, que interagiu com os golpistas que invadiram o Planalto.

Ontem, Lula disse que o Brasil é um país que tem “democracia de verdade” e pediu aos presentes que se transformem em “soldados” contra as fake news.

—Todas as pessoas que tentaram dar golpe serão presas porque este país tem democracia de verdade — afirmou o petista, sob forte calor.

— Cada companheiro que tem um celular precisa ficar esperto com as mensagens mentirosas, evitando repassá-las para a frente. Isso pode prejudicar a vida das pessoas. A mentira nunca levou ninguém a lugar nenhum. Foi a verdade que derrotou o ex-presidente (Jair Bolsonaro).

Outra ofensiva

A mais de 300 quilômetros de distância do evento do Vale do Anhangabaú, organizada por centrais sindicais, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, abordava, na Agrishow, em Ribeirão Preto, um tema que motivou a abertura de outra CPI na semana passada na Câmara: as invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ao lado do expresidente Jair Bolsonaro, ele defendeu a prisão para aqueles que invadirem terras.

— Não vamos transigir com a segurança jurídica. Vamos proteger a propriedade privada. Não vamos tolerar invasão de terra aqui no nosso estado. Aqueles que invadirem terão um destino só, a cadeia — afirmou o governador de São Paulo para o público do evento, majoritariamente ligado ao agronegócio.

O MST reivindica reforma agrária e cobra do governo federal mais rapidez no atendimento à pauta. Em abril, o grupo promoveu ocupações em 19 estados. As invasões incluíram uma área da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Pernambuco, o que provocou descontentamento no Planalto, e propriedades de empresas de celulose.

Bolsonaro usou o espaço dado por Tarcísio para discursar durante sete minutos. Ele fez acenos ao agronegócio, com críticas ao governo federal pela demarcação de terras indígenas. O ex-presidente afirmou que, se Lula atender “10% do que reivindicam” as comunidades indígenas e quilombolas, o setor será prejudicado:

— O agro precisa de políticos que não atrapalhem vocês.

No palco do governador, o ex-presidente driblou o cancelamento da cerimônia de abertura da Agrishow, após mal-estar entre os organizadores do evento e o governo pela presença de Bolsonaro. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou ter sido “desconvidado” após o ex-presidente ter confirmado presença. Em retaliação, o governo retirou o patrocínio do Banco do Brasil, alegando que não faria sentido um banco público patrocinar um evento que serviria de palco político para Bolsonaro.