Título: Computadores do Opportunity na mira da CPI
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/09/2005, País, p. A4

A CPI do Mensalão vai votar nos próximos dias um requerimento para ter acesso às informações do disco rígido (HD) do computador do Banco Opportunity, apreendido pela Polícia Federal no ano passado.

Autora do requerimento, a senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA) quer esclarecer possíveis ligações do banqueiro Daniel Dantas, dono do Grupo Opportunity, com o suposto esquema de pagamento de mesadas à parlamentares. Os advogados do Opportunity estariam impedindo que a PF não abra o HD.

O disco rígido do Opportunity foi recolhido em uma busca na sede do banco durante as investigações sobre um esquema de espionagem, da Kroll Associates, em que Dantas teria envolvimento.

A senadora justifica no seu requerimento que o Grupo Opportunity figura como peça chave em diversas transações financeiras que envolvem os fundos de pensão nas estatais, além de ser responsável pela movimentação de ''elevado montante'' de recursos nos documentos apresentados por Marcos Valério.

- Temos que investigar quem fez o maior volume de depósitos nas contas de Marcos Valério. Este disco rígido pode ser uma caixa preta de verdade - afirmou Ana Júlia Carepa.

As empresas ligadas ao Opportunity - Telemig Celular, Brasil Telecom e Amazônia Celular - movimentaram R$ 145 milhões nas contas das empresas de Valério, segundo dados da CPI dos Correios. Mas, até agora, Dantas foi convocado para depor no dia 14 na CPI do Mensalão.

Para a Polícia Federal, a perícia no HD do Opportunity é necessária para a conclusão das investigações do caso Kroll. Depois que foi descoberto o esquema de espionagem da Kroll, as investigações mostram que o Opportunity passou a utilizar os serviços do espião israelense Avner Shemesh. Dantas utilizou a Telemig Celular e a Brasil-Telecom para pagar o esquema de espionagem.

Uma das pessoas que tiveram o sigilo quebrado pelos espiões, o empresário Luiz Roberto Demarco Almeida, enviou uma carta ao senador Heráclito Fortes (PFL-PI), demonstrando indignação com o que considera uma defesa que o parlamentar faz dos ''pontos de vista'' do banqueiro Dantas na CPI do Mensalão.

Heráclito se diz amigo de Carlos Rodenburg, sócio e ex-cunhado de Dantas, mas negou recentemente que defenda interesses do dono do Opportunity no Congresso.

A senadora Ana Júlia acha que a CPI tem de inverter o foco e ampliar as investigações para as empresas de telefonia que operam no país:

- Já está comprovado que não são os fundos de pensão que controlam as empresas de telefonia. Temos que investigar quem tem o poder - defendeu a senadora.