Título: Dinheiro de Valério usado para troca-troca de partidos
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/09/2005, País, p. A4

O relatório parcial das CPIs dos Correios e do Mensalão contesta a tese de que os recursos sacados das contas do empresário Marcos Valério de Souza e de suas empresas eram usados para o pagamento de dívidas de campanha. Para os relatores das duas comissões - Osmar Serraglio (PMDB-PR) dos Correios e Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG) do Mensalão - uma das utilizações dos R$ 55 milhões das operações de crédito no Banco Rural e no BMG seria a compra de passe de políticos para que mudassem de partidos.

- Ainda cabe constatar a migração exagerada em direção a determinados partidos e os métodos de cooptação utilizados. Para explicar esse nebuloso esquema, é perfeitamente plausível a tese de que os empréstimos foram simulados para dar aparência lícita a dinheiro de origem ilícita, que seria destinado ao bolso de políticos sob o falso argumento de dívidas passadas - afirmam os deputados no documento feito em conjunto pelas duas comissões.

Serraglio e Abi-Ackel contestaram os argumentos de que os saques das contas de Valério teriam sido destinados ao pagamento de dívidas de campanha sem a prestação de contas à Justiça Eleitoral. Para eles, estes argumentos não se confirmam porque tesoureiros e políticos não ''apresentaram provas das dívidas supostamente honradas com o dinheiro de Marcos Valério''.

- Vale notar que, fossem destinados ao pagamento de dívidas, os recursos certamente seriam expressos em valores não inteiros, ou seja, seriam representados por milhares, centenas, dezenas e unidades, além de centavos de real - justificam.

Na lista de saques, a retirada de recursos aponta, como regra, números inteiros.

Os dados repassados às CPIs, por enquanto, não comprovariam o pagamento de mesadas a parlamentares da base do governo, conforme esquema denunciado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Porém, confirmam que houve repasse de dinheiro para parlamentares.

- O que menos interessa, a esse respeito, é a periodicidade dos pagamentos. Alguns podem ter sido feitos mês a mês, outros com maior ou menor periodicidade. O fato importante, do qual não podemos nos afastar, é o recebimento de vantagens indevidas - afirmam os parlamentares no relatório parcial.

O documento pede a cassação de mandato de 18 deputados. No relatório, os deputados Serraglio e Abi-Ackel afirmam que o Congresso não participará de acordão e deve ''cortar na própria carne'', caso contrário, vai ''se divorciar'' da vontade popular.

- Em decorrência desse estado de desencantamento da população que, neste momento, faz-se necessária a punição de todos aqueles cujo envolvimento nos desvios e omissões apontados restar comprovado nas investigações pelas CPMIs ou pela Comissão de Ética - declaram.