O Estado de S. Paulo, n. 46642, 30/06/2021. Política, p. A8

Saúde demite responsável por comprar vacina

Lauriberto Pompeu
André Shalders


Acusado de pressionar servidores para acelerar a importação da vacina indiana Covaxin, mesmo com indícios de irregularidades no contrato, o diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, foi demitido do cargo. A decisão foi tomada na manhã de ontem, segundo nota divulgada ontem à noite pela Pasta. O texto confirma ainda que a exoneração do diretor sairá na edição do Diário Oficial de hoje.

A demissão de Ferreira dias acontece quatro dias após os depoimentos à CPI da Covid do deputado Luis Miranda (DEMDF) e de seu irmão, Luis Ricardo Fernandes Miranda, chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde. Os dois disseram haver um esquema de corrupção envolvendo a compra da Covaxin e citaram Ferreira Dias.

O diretor foi indicado para o cargo pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-pr), ex-ministro da Saúde, e pelo ex-deputado Abelardo Lupion (DEM-PR). No ano passado, ele quase ocupou uma diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas o próprio presidente Jair Bolsonaro desistiu da indicação após o Estadão mostrar que o diretor havia assinado contrato de R$ 133,2 milhões no Ministério da Saúde, com indícios de irregularidade.

Uma outra denúncia contra ele, desta vez de cobrança de propina, partiu de Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresenta como representante da Davatti Medical Supply. A CPI da Covid vai ouvir na sextafeira o depoimento de Dominguetti, que disse ao jornal Folha de S. Paulo ter recebido de Ferreira Dias pedido de propina de US$ 1 para cada dose da vacina Astrazeneca adquirida pelo governo Bolsonaro. A Astrazeneca nega, porém, que a Davatti a represente – a empresa americana já foi desautorizada pela Astrazeneca no Canadá.

Os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP, vice–presidente da CPI, e Alessandro Vieira (Cidadania-SE) prepararam um requerimento para convocar Dominguetti. Quando depuseram à CPI da Covid, o deputado Luis Miranda e o irmão dele disseram que se reuniram com Bolsonaro no dia 20 de março, no Palácio da Alvorada, e relataram o esquema de corrupção no Ministério da Saúde para compra de vacinas.

Reportagens publicadas na imprensa mineira indicam que a Davatti pode estar fraudando o processo de compra de vacinas no Estado. A empresa teria negociado com prefeituras, com o objetivo de conseguir uma carta de intenção demonstrando interesse na aquisição de imunizantes da Astrazeneca. Depois de conseguir a carta, porém, as conversas emperraram.