Título: Celso Amorim critica falta de recursos
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Fonte: Jornal do Brasil, 02/09/2005, País, p. A6
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, fez ontem um desabafo público sobre os problemas enfrentados pelo ministério. O discurso foi feito a diplomatas, personalidades brasileiras e estrangeiras e na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a entrega da Ordem do Rio Branco, no Palácio Itamaraty. Na cerimônia, Lula condecorou o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti. A Ordem do Rio Branco foi criada em 1963 e é uma homenagem ao patrono da diplomacia brasileira, o Barão do Rio Branco.
Amorim falou sobre a defasagem no número de diplomatas frente ao aumento das atribuições internacionais. Citou as dificuldades financeiras e também os problemas de acesso à educação das famílias de diplomatas em alguns postos no exterior.
- Nós não poderemos aparelhar essa carreira para enfrentar os desafios, e eu não digo nem da sua política externa, que introduziu um grande dinamismo, mas até para os desafios de ontem com os recursos que nós temos hoje - disse o ministro, que completou: - Nós temos mais ou menos o mesmo número de diplomatas que tínhamos há 20 anos, e há 20 anos havia talvez 300, 400 mil brasileiros no exterior. Hoje são 4 milhões. O Brasil não se relacionava como se relaciona hoje com países da África, com países árabes, com tantos outros países que Vossa Excelência visitou.
O ministro citou também os profissionais que são cedidos para outras áreas do governo, contribuição que, segundo ele, é dada ''com muita alegria''. O discurso serviu para que ele reforçasse ao presidente a necessidade de uma profunda reforma no Itamaraty - para a qual o ministério tem uma proposta que está em conclusão desde o ano passado e cujo texto precisa passar pelo Palácio do Planalto. O plano inicial do Itamaraty era a publicação de uma Medida Provisória no ano passado, permitindo a implantação das reformas já em 2005. Estão previstos o aumento em cerca de 50% nos quadros do Itamaraty e mudanças no fluxo de carreira no ministério.
Durante seu discurso, Amorim não poupou os diplomatas. Segundo ele, é preciso que os ''colegas antigos'' saibam a hora de ''ceder espaço para os mais jovens'', como forma de melhorar as oportunidades e perspectivas de quem entra na carreira. No Itamaraty, para que alguém seja promovido é necessária a existência de vagas nos postos superiores.
Antes do pronunciamento de Celso Amorim, o presidente Lula discursou durante a cerimônia de formatura de novos diplomatas. Lula citou o economista Celso Furtado como exemplo a ser seguido. Ele disse Furtado sempre acreditou no Brasil e na capacidade transformadora de seu povo.
O presidente também usou novamente a palavra paciência ao afirmar que a política externa bem-sucedida é a prova de que com paciência, dedicação e visão de futuro ''estamos transformando em realidade aquilo que não saía do papel''. Lula comemorou os números da política externa e econômica dizendo que está sendo projetado lá fora o êxito econômico que o país está tendo internamente. Em vários momentos, falou aos diplomatas da necessidade de manter a cabeça erguida e não ceder a preconceitos.
- Não seremos uma grande nação se prevalecerem duas coisas: a subordinação e o preconceito. Tirem essas duas coisas da cabeça e vocês serão vencedores. Vou dar um conselho, como presidente da República e como um sindicalista que negociou a vida inteira: vocês só serão respeitados se se respeitarem. Nunca baixem a cabeça. Ninguém é líder por pedir para ser, é líder quando a maioria quer - discursou o presidente.