Título: Crescimento eleva importações
Autor: Dimalice Nunes
Fonte: Jornal do Brasil, 02/09/2005, Economia & Negócios, p. A19

A valorização do real frente ao dólar levou as importações a um volume recorde em agosto. As compras realizadas pelo país no exterior atingiram a marca de US$ 7,676 bilhões, avanço de 27% em relação ao patamar verificado em junho. As exportações cresceram em ritmo bem menor, 2,6%, mas também foram recordes para um mês - US$ 11,348 bilhões no período. Apesar da ameaça ao superávit comercial - e, conseqüentemente, às contas externas - as importações revelam dados alentadores: o indicador avançou puxado pela aquisição de bens de capital (máquinas e equipamentos para a indústria) e combustíveis, que indicam retomada do crescimento econômico.

O superávit comercial chegou a US$ 3,672 bilhões no mês passado, acima dos US$ 3,434 bi de agosto de 2004, mas abaixo dos US$ 5,012 bilhões de julho. O resultado eleva o acumulado de janeiro até agora para US$ 28,348 bilhões. As vendas ao exterior acumulam US$ 76,086 bilhões, avanço de 24% na mesma comparação. As importações ficaram em US$ 47,738 bilhões, um aumento de 21% em igual período.

Nas importações, as compras de combustíveis aumentaram 65%; de bens de capital, 35,2%; de bens de consumo, 27,9%; e de matérias-primas, 18,9%. Com a desvalorização do dólar frente ao real, esperava-se que as importações de bens de consumo avançassem. No entanto, a participação dos bens de capital na pauta de importação cresceu de 19,3% de janeiro a agosto de 2004 para 20,6% no mesmo período desse ano, enquanto a de bens de consumo permaneceram em 11%.

- Nos próximos meses, as importações de bens de consumo devem ficar estáveis enquanto as de bens de capital devem continuar crescendo - aposta o secretário-interino de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, Armando Meziat. Segundo ele, contribuíram para o recorde nas importações o preço de petróleo, a taxa de câmbio e o crescimento da economia.

A exportação de produtos manufaturados em agosto foi mais um dos recordes alcançados e chegou a US$ 5,963 bilhões. Os produtos básicos e semimanufaturados também alcançaram marcas históricas, com US$ 3,839 bilhões e US$ 1,235 bilhão, respectivamente.

A corrente de comércio - soma das exportações e importações, que mede a inserção do país no comércio mundial - subiu de 27% para 30% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas pelo país), atingindo US$ 19 bi, entre 2004 e 2005.

Apesar da queda no ritmo de expansão das exportações, o Ministério anunciou que revisará para cima a meta de vendas externas para 2006, de US$ 120 bi. Este ano, o alvo é de US$ 112 bi. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve um segundo dia de comemorações e aproveitou para afirmar que o resultado das exportações ''não é nada ruim'', durante a solenidade de criação do novo Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência. Lula aproveitou para alfinetar o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Paulo Skaf, contumaz crítico da manutenção do real forte, que estava presente.

- Eu fico imaginando o Skaf pensando, imagina se o câmbio estivesse uns R$ 2,70, R$ 3, como é que seria melhor - comentou.