Correio Braziliense, n. 21519, 15/02/2022. Brasil, p. 6

Janeiro, o mês com mais morte no país



Foram mais de 144 mil óbitos, pior resultado desde 2003. Associação de cartórios coletou os dados
O último mês de janeiro apresentou o maior registro de mortes desde 2003 — um total de 144.341. É o que mostra o levantamento realizado pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen/BR), que apontou um aumento de 5% em relação ao mesmo período do ano passado — quando foram averbados 137.431 óbitos. O mês já havia mostrado um crescimento de 22% nas vidas perdidas em relação ao mesmo período de 2020, antes do início da pandemia no país.

A alta de vítimas de pneumonia, segundo o presidente da Arpen/BR, Gustavo Renato Fiscarelli, ficou em cerca de 70% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Embora tenha sido apontada como menos letal, a variante ômicron foi responsável por uma explosão de infectados. Além disso, a nova cepa fez aumentar a taxa de óbitos, sobretudo entre não vacinados, idosos e pacientes com comorbidades.

Mas não foram apenas as mortes provocadas pela covid-19 que colocaram janeiro passado como o mês mais letal desde 2003. O número de mortes por causas violentas cresceu 81% em 2022 em relação a janeiro do ano passado. Com o fim do isolamento, os índices de óbitos em razão de homicídios, acidentes de veículos e suicídio contribuíram para o registro do recorde de vidas perdidas. Na comparação de janeiro de 2020, antes do isolamento, com o mesmo mês de 2021, houve queda de 73% nos óbitos violentos.

“No período em que o governo estabeleceu o isolamento e todas as outras medidas que foram necessárias, houve um decréscimo das mortes violentas, inclusive de acidentes. Com a retomada das atividades, esse número de mortes brutais voltou a aumentar, o que acabou aumentando o número em geral”, explica Fiscarelli.

 

Doenças cardíacas

Em janeiro passado, na comparação com o mesmo mês de 2021, também foi anotado o aumento de mortes por doenças do coração: AVC (20%), enfarte (17%) e causas cardiovasculares inespecíficas (19%). Também registraram crescimento as mortes por septicemia — infecção no sangue (23%), Síndrome Respiratória Aguda Grave/SRAG (9%) e indeterminada (9%).

Os dados constam no Portal da Transparência do Registro Civil, base de dados administrada pela Arpen, abastecida em tempo real pelos atos de nascimentos, casamentos e óbitos praticados pelos 7.658 cartórios de Registro Civil do país — presentes em todos os 5.570 municípios. O banco de informação é cruzado com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que utiliza como base os dados dos próprios cartórios.

 

Vítimas fatais: média ainda é alta

Mesmo com mais de 70% da população vacinada com duas doses ou aplicação única, o Brasil mantém uma média móvel de mortes por covid acima de 800. Especialistas apontam que a maior parte das vítimas é formada por idosos, vulneráveis e não imunizados. Nesse quadro, a alta transmissibilidade da cepa ômicron tem aumentado as internações em leitos de enfermaria e UTI em praticamente todo o país. Dois números no total de mortes de janeiro chamam a atenção: em janeiro de 2019, por exemplo, 1.337 pessoas morreram de AVC, mas, no primeiro mês deste ano, foram 10.326. Em doenças cardio-vasculares, se em 2019 o número foi 5.968, em janeiro passado chegou a 14.703.