Correio Braziliense, n. 21500, 27/01/2022. Política, p. 2

Moro ataca TCU e diz que divulgará ganhos

Cristiane Noberto
Taísa Medeiros


Sob pressão, o ex-ministro Sergio Moro, pré-candidato à Presidência pelo Podemos, prometeu divulgar, amanhã, os ganhos que obteve com a prestação de serviços ao escritório Alvarez & Marsal. Ele trabalhou na área de compliance da consultoria americana depois de deixar o Ministério da Justiça, em 2020, e permaneceu até outubro do ano passado, quando decidiu entrar na corrida pelo Planalto.

O questionamento sobre os rendimentos dele na consultoria partiu do Tribunal de Contas da União (TCU), que avalia se houve conflito de interesses pelo fato de o escritório atender empreiteiras investigadas pela Operação Lava-Jato, da qual ele foi o juiz responsável pelos casos (leia Entenda o caso). O PT chegou a cogitar colher assinaturas para abrir uma comissão parlamentar de inquérito (CPI), mas acabou desistindo.

“Apesar da natimorta CPI e das ilegalidades do processo no TCU, eu, por consideração aos brasileiros e em nome da transparência que deve pautar a política, na sexta (amanhã), divulgarei meus rendimentos na empresa em que trabalhei”, afirmou Moro, em vídeo postado no Twitter. “Não estou cedendo ao TCU. O TCU está abusando, mas eu quero ser transparente com você, com a população brasileira, como toda pessoa pública deve ser.”

De acordo com Moro, se houvesse investigação, não seria encontrado “nada de errado”, e os críticos iam “quebrar a cara”. Disse também que esse processo na Corte de contas “é um abuso, cheio de ilegalidades”. Ele ainda destacou que, além dos valores recebidos, publicará o Imposto de Renda.

Na segunda-feira, a Alvarez & Marsal divulgou nota na qual enfatizou que Moro não atuou junto às empresas investigadas na força-tarefa que são atendidas pela empresa. São elas: Odebrecht, Galvão Engenharia e OAS, responsáveis por 75% do faturamento da consultoria. O escritório também destacou que “prestou todos os esclarecimentos solicitados pelo TCU de forma tempestiva e colaborativa, sendo que o parecer técnico do tribunal demonstrou não haver nenhum tipo de conflito”.

Ainda segundo o comunicado, Moro atuou na área de compliance e, no contrato, estava expressamente escrito o impedimento de “atuar direta ou indiretamente no atendimento a clientes que tivessem qualquer envolvimento com a Operação Lava-Jato ou empresas investigadas por ele ao longo de sua carreira como juiz ou ministro, estando totalmente delimitado a atuar dentro do seu escopo de trabalho em disputas e investigações”.

Frase

"Não estou cedendo ao TCU. O TCU está abusando, mas eu quero ser transparente com você, com a população brasileira, como toda pessoa pública deve ser”

Sergio Moro, pré-candidato do Podemos à Presidência da República