Título: Severino faz autoproteção
Autor: Sergio Duran
Fonte: Jornal do Brasil, 05/09/2005, País, p. A3

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), procurou ontem se antecipar à movimentação dos parlamentares que pedem seu afastamento e determinou a criação de uma comissão de sindicância para investigar as denúncias do empresário Sebastião Augusto Buani, de que teria pago propina a Severino pela concessão de restaurante na Casa. Severino designou ao diretor-geral, Sérgio Sampaio, a criação de uma comissão de sindicância, que antes mesmo de indicar seus componentes já descartou a possibilidade de detectar ilegalidades no contrato de concessão. Reunião aberta a todos os deputados será realizada hoje com o objetivo de elaborar um pedido formal de afastamento do presidente da Câmara até o esclarecimento das denúncias.

Segundo Sampaio, o objetivo da sindicância é mostrar que não houve ilegalidade. Ele será encarregado de escolher mais três membros para apurar as denúncias e apresentar relatório à Mesa Diretora.

- A gente quer demonstrar que todo o rigor foi aplicado na negociação dos termos do contrato. Eu conheço bem o contrato. Não tem absolutamente nenhuma ilegalidade - afirmou Sampaio indicando que o empresário Sebastião Augusto Buani deverá ser ouvido.

Em paralelo ao trabalho da sindicância, Severino divulgou que o Tribunal de Contas da União fará ''auditoria urgente e especial em todos os contratos que envolvam a empresa Buani & Paulucci Ltda''. Ele também encaminhou ao corregedor da Câmara, o deputado Ciro Nogueira (PP-PI) toda a documentação do contrato e material publicado pela imprensa para análise da Corregedoria. Ciro, que é correligionário e amigo de Severino, deverá emitir parecer sobre o caso.

Mas a decisão de afastamento do cargo, como quer o movimento anti-Severino, depende apenas do próprio presidente da Casa. Outra alternativa é a abertura de processo no Conselho de Ética para analisar uma possível quebra de decoro parlamentar, o que levaria pelo menos três meses. Entre essas duas possibilidades está a tentativa dos líderes partidários de acompanhar de perto a elaboração do parecer pelo corregedor para pressionar Severino a se afastar para que as denúncias sejam analisadas pelo Conselho de Ética.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) alerta para o fato de depender da Mesa Diretora, presidida justamente por Severino, o envio para o Conselho de qualquer representação para abertura de processo de quebra de decoro. Outra possibilidade é a representação direta ao Conselho feita pelos partidos a exemplo do que ocorreu no processo aberto pelo PL contra o deputado Roberto Jefferson e o aberto pelo PTB contra o ex-ministro e deputado José Dirceu. Essa decisão poderá ser tirada pelos líderes partidários ainda nesta semana.

Antes disso, na reunião aberta, - que conta com o apoio do PFL, PSDB, PPS, PV e a ala esquerda do PT - será proposta a redação de um texto pedindo o licenciamento temporarário de Severino. A idéia é buscar entre os deputados o maior número de adesões e, se for conveniente, levar o requerimento à votação em plenário.

- Não é uma iniciativa apenas de deputados da oposição. São de todos que zelam pela imagem da Câmara - disse o líder da minoria da Casa, José Carlos Aleluia (PFL-BA).

Surpreende a falta de manifestação do PT sobre o caso. Segundo o deputado da ala esquerdista do partido, Chico Alencar (RJ) ''esse PT oficial anda meio tímido, meio inibido''. Alencar analisa que o afastamento temporário do presidente da Câmara permite o avanço das investigações:

- É melhor que o presidente se licencie para não ser acusado de fazer pressões contra a Corregedoria.

Para hoje também está prevista a viagem de Severino para Nova York, nos Estados Unidos, onde representará o Congresso Brasileiro na Organização das Nações Unidas (ONU). O presidente da Câmara vai participar da 2ª Conferência Mundial de Presidentes de Parlamentos, onde deverá discursar na próxima sexta-feira.

A Polícia Federal deve ouvir Buani na sexta-feira, mas para apurar a denúncia de extorsão feita por Severino diretamente ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos ao se defende da denúncia de extorsão. Buani é proprietário da rede de restaurantes e lanchonetes Fiorella, que tem uma concessão na Câmara. Reportagens das revistas Veja e Época publicaram que ele teria pago em torno de R$ 10 mil mensais a Severino ao longo de 2003 para manter a concessão.