Título: Saúde e Natureza ¿ respeito à vida
Autor: Gilberto Ururahy
Fonte: Jornal do Brasil, 05/09/2005, Outras Opiniões, p. A12

A natureza tem sido permanentemente agredida. Em 1992, na Conferência do Meio Ambiente promovida pelas Nações Unidas, no Rio, se evidenciava a preocupação do homem com as conseqüências para a atmosfera e para o clima em função da queima de combustíveis fósseis, estabelecendo-se entre os países participantes o compromisso com a redução da emissão de gases oriundos dessas queimas. Os países desenvolvidos são os grandes consumidores desse tipo de combustível, portanto os mais poluidores.

O tempo passou e verificou-se que poucos países haviam cumprido o que tinha sido estabelecido. Em novo encontro em Kyoto, no Japão, os americanos se negaram a assinar o protocolo sobre a emissão de gases poluentes. Buracos na camada de ozônio, queimadas se ampliando, temperatura crescendo em face do efeito estufa, e a natureza, após tanta agressão, nos devolve a fatura na forma de maremotos, furacões, enchentes, ciclones e geleiras que se fragmentam.

Na Lagoa Rodrigo de Freitas, há três anos, durante o verão, os peixes morriam em toneladas. Os postos de gasolina vomitavam seus refugos diretamente em seu leito d'água, canos enormes em toda a sua periferia canalizavam para as profundezas esgoto in natura. Os atletas remadores treinavam sobre um verdadeiro caldo de coliformes, a concentração de oxigênio nas suas águas era incompatível com a sobrevivência das espécies presentes. A população local se rebelou, a mídia explicitou e os políticos aprovaram pequenos investimentos para a melhoria das condições de vida da Lagoa. Assim, esse belo cartão-postal do Rio aos poucos recomeça a equilibrar-se.

Assim é a natureza: agressiva, violenta, indomável quando maltratada. Por outro lado, quando bem cuidada, é generosa e parceira. Assim também é o nosso corpo, quando o maltratamos com um estilo de vida inadequado, quando o poluímos de várias formas, não podemos esperar outra resposta senão a doença.

Estilo de vida - grande poluidor

Segundo a Universidade de Stanford, EUA, o estilo de vida competitivo e obsessivo por resultados e a adoção de hábitos e higiene de vida agressivos à saúde - estresse crônico, alimentação desequilibrada, sedentarismo, tabagismo, além das agressões aos ritmos biológicos do corpo humano - têm aumentado a incidência de doenças. Segundo o mesmo estudo, o peso dos fatores que fazem um indivíduo viver mais é: estilo de vida e ações do meio ambiente (73%); fator genético (17%) e outras doenças não relacionadas aos dois primeiros itens (10%).

A possibilidade, então, de se viver mais está relacionada com estilo de vida saudável, em que o estresse crônico e as emoções são bem gerenciados. Desta forma, é possível envelhecer mantendo uma qualidade de vida satisfatória. Entretanto, a maioria das pessoas adota um estilo de vida incompatível com a longevidade. Nesse contexto, as doenças modernas se multiplicam.

Como ainda adotamos a medicina reducionista, focando unicamente a doença no seu órgão, deixando de lado o organismo como um todo, fica mais difícil tratar ou orientar um paciente com doença, que tem como pano de fundo o estresse crônico. A doença é uma resposta emocional ou física do organismo a um estresse intenso. Ela se manifesta para reduzir a tensão interior e preservar o organismo. Entretanto, a lógica de seu processo pode acarretar a destruição do indivíduo.

A doença é um sinal a ser compreendido antes de ser combatido. O corpo e as emoções têm que ser ''escutados''. A principal causa da mortalidade do homem moderno é o seu estilo de vida e, para mudá-lo, a determinação devem ser constantes. Muitos tentam, poucos conseguem. A ilusão dos que não conseguem mudar o seu estilo de vida é uma frase que ouvimos em nossa prática médica: ''Na 2ª-feira começo vida nova...''.

O segredo para se viver mais está na administração do estilo de vida. O dramático é que o homem moderno, ainda polui muito o seu organismo com o estilo de vida que leva. Vive-se em um mundo em que o cérebro emocional é bombardeado por um acúmulo de emoções negativas. Ao longo do tempo, dada sua repetição, o desgaste do corpo e da mente é grande. Os agentes poluidores se instalam no corpo através de maus hábitos e pouca higiene de vida - ingestão exagerada de açúcar, gorduras e substâncias estimulantes ou depressivas do sistema nervoso e sedentarismo.

As ações voltadas para a medicina preventiva, os tratamentos para as doenças crônicas e, sobretudo, a mudança do estilo de vida fazem as pessoas viverem mais. Viver mais significa não ter doenças crônicas, de longa duração. Significa um organismo despoluído, oxigenado, com vasos sanguíneos desobstruídos. Significa cuidar da saúde para, em idade avançada, ter as funções físicas e mentais preservadas.