O Estado de São Paulo, n. 46652, 10/07/2021. Política p.A8

 

 

CPI não teme 'quarteladas', diz Renan

 

Daniel Weterman

Amanda Pupo

 

Sob ataques do presidente Jair Bolsonaro, e após reação das Forças Armadas às declarações do presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid no Senado, Omar Aziz, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), disse ontem que o colegiado não teme "intimidações e quarteladas". A declaração foi feita após comandantes militares reiterarem ontem as ameaças feitas aos parlamentares de que não aceitarão ataques.

"Não vamos investigar instituição militar, longe de nós. Nós temos responsabilidade institucional. Agora, vamos, sim, investigar o que aconteceu nos porões do Ministério da Saúde. E, na medida em que esses fatos forem sendo conhecidos e essas provas foram sendo apresentadas, nós vamos cobrar a punição dos seus responsáveis, sejam eles civis, sejam eles militares – não importa", disse Renan.

Na quarta-feira, o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, e os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, divulgaram nota em que afirmam que não aceitarão mais ataques feitos às Forças Armadas por integrantes da CPI. "As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro", diz o comunicado.

Horas antes, Aziz havia criticado o "lado podre" das Forças Armadas por envolvimento em "falcatrua" no governo Jair Bolsonaro. A CPI investiga a atuação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, general da ativa do Exército, e outros militares que atuaram na pasta.

Renan cobrou apoio "explícito" dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-al), diante dos ataques ao Legislativo. De acordo com o relator, Lira, de quem é desafeto, "não tem perdido oportunidade de falar mal da CPI".

Um dia depois da nota das Forças Armadas, Braga Netto e o comandante do Exército, general Paulo Sérgio de Oliveira, telefonaram para o presidente do Senado tentando dissipar o clima de tensão entre as Forças Armadas e o Senado. Ao Estadão, Pacheco falou em "ponderação". "É hora de ponderação. Nós só vamos superar definitivamente se houver menos valentões e mais gente de bom senso". E acrescentou: "Não se pode fazer de uma fala uma crise institucional, como não se pode fazer de uma nota uma crise institucional". Para Renan, é preciso que o presidente do Senado apoie os trabalhos da CPI para que as investigações sejam aprofundadas. "Nós não podemos ter medo de arreganhos, de ameaças, de intimidações, de quarteladas", disse, durante discurso na comissão.

Pacheco afirmou ontem considerar a cobrança de Renan "injusta". "A CPI, como órgão do Senado Federal, recebeu todo o meu apoio, inclusive material mesmo, de cessão da sala, de permitir que se funcionasse da melhor forma. Não há da minha parte qualquer interferência nos trabalhos da comissão Parlamentar de Inquérito", disse Pacheco, que só autorizou o funcionamento da comissão após ordem do Supremo Tribunal Federal.

A cúpula da CPI enviou ontem uma carta a Bolsonaro, cobrando dele que se manifeste sobre as denúncias de corrupção apresentadas pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF), referentes às negociações para compra da vacina indiana Covaxin. O presidente não só desafiou e desrespeitou a CPI, usando termos chulos, como disse que "em hipótese alguma" atenderá a esse pedido.

Ontem, em entrevista ao jornal O Globo, o comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Junior, disse que a nota das Forças Armadas foi um "alerta" a Aziz sobre os ataques às instituições. Pelo Twitter, o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, endossou as declarações. "Nos momentos de festa ou de dor, os militares estarão sempre unidos, em prol do povo brasileiro. Espírito de corpo forte. Corporativismo, jamais!", postou.