Título: Denúncia atinge Severino
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/09/2005, País, p. A3

O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), é acusado de ter recebido R$ 10 mil mensais de propina, entre 2002 e 2004, do proprietário de restaurante que funciona no edifício Anexo IV, Sebastião Augusto Buani, da Câmara dos Deputados. O autor da denúncia é um ex-funcionário de Buani, Izeilton Carvalho, conforme reportagens publicadas nas revistas Época e Veja deste fim de semana. Izeilton passou a semana oferecendo um ¿dossiê¿ para as revistas. Como não negocia a compra de documentos, a Época gravou Izeilton oferecendo a documentação que comprovaria o pagamento da propina a Severino, na época, primeiro-secretário da Câmara. Izeilton disse que a maioria dos pagamentos era ¿em dinheiro¿. Ele afirmou ainda que o próprio Buani foi quem pediu para fazer o dossiê contra Severino.

A nova denúncia compromete ainda mais a imagem do presidente da Câmara ¿ já desgastada em função da defesa de penas brandas para deputados denunciados por corrupção. O deputado federal Fernando Gabeira (PV/RJ) é um dos defensores do afastamento do parlamentar do cargo de presidente da Casa.

Assim que foi informado sobre a denúncia, o presidente da Câmara convocou toda a assessoria jurídica e administrativa na residência oficial, às margens do Lago Sul, para redigir uma nota, onde informa que Buani deve à Câmara R$ 150 mil de ¿inadimplência contratual¿. Curiosamente, Buani mantém seu restaurante na Câmara, desde o final do ano passado, sem pagar aluguel. O prazo final para o pagamento do aluguel atrasado, segundo informou a Câmara, terminou ontem.

Na nota, o presidente da Câmara informou ter sido avisado que Buani tem em seu poder um documento, assinado por ele, Severino, ¿assegurando 5 anos de contrato com a Casa¿.

¿ Tal documento não consta de qualquer processo da Câmara dos Deputados, e não se sabe como foi obtido pelo senhor Buani ¿ explica a nota, não negando a existência do documento e informando que o documento ¿não tem validade jurídica¿.

Na nota, Severino informaria que solicitou ao ministro da Justiça, ¿José Thomaz Bastos¿ (que se chama Marcio Thomaz Bastos), providências para a apuração de tentativa de extorsão. Ontem mesmo, o ministro determinou à Polícia Federal instauração de inquérito para investigar o caso.

A denúncia contra Severino esquentou a sexta-feira em Brasília, dia em que a grande maioria dos políticos já viajou para os respectivos Estados. A acusação é feita no momento em que o presidente da Casa tem sido rechaçado pelas diversas tentativas de amenizar a pena para os parlamentares denunciados por corrupção.

Sebastião Buani é dono do Grupo Fiorella, uma cadeia de restaurantes italianos, tradicionais em Brasília. No período em que Severino participou da administração da Câmara, Buani chegou a administrar todos os oito restaurantes e lanchonetes da Casa.

Segundo um funcionário do restaurante, Izeilton era uma espécie de braço-direito de Buani na administração da casa e teria sido afastado do cargo pelo mesmo Buani na quinta-feira, dia em que o dossiê foi dado aos jornalistas em Brasília.

Severino determinou que o diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio, prestasse todas as explicações sobre os contratos. Sérgio afirmou que, desde 2000, Buani trabalha com restaurantes na Casa. Durante a gestão de João Paulo Cunha (PT-SP), disse Sampaio, a Casa decidiu ¿acabar com o monopólio¿ de Buani, que ainda venceria duas licitações em 2003, mas só ficaria com o restaurante do Anexo IV, com a promessa de pagar aluguel de R$ 11,5 mil mensais. Buani está inadimplente desde dezembro de 2004. Segundo Sampaio, o empresário pediu ampliação no prazo de pagamento.

¿ Ele veio aqui quatro vezes. Pedia para diminuir o valor do aluguel ¿ afirmou o diretor, informando que a Casa tem como garantia um seguro de R$ 290 mil de Buani.