Título: Vice-presidente sai do PL e fica sem partido
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 03/09/2005, País, p. A5

O vice-presidente, José Alencar, decidiu deixar o PL, partido ao qual se filiou no final de 2001, pouco antes de fechar o acordo para ser integrar a chapa que levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto. Após comunicar a decisão ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, Alencar expicou que ainda definiu em qual legenda se filiará. ''Há um tempo para cada coisa'', justificou a assessores. Ex-peemedebista, precisa escolher um novo partido até o fim de setembro, um ano antes das eleições de 2006. Há três dias, José Alencar garantia não pensar em trocar de sigla, apesar de ressalvar que não bancaria o ''dessa água não beberei''.

O vice de Lula começou a analisar a saída do PL há alguns meses, quando denúncias de corrupção e participação no suposto esquema do mensalão atingiram em cheio líderes do partido. A confissão do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, de que recebeu recursos do PT e fez caixa dois, desgastaram a imagem da sigla. Após assumir a irregularidade, Valdemar renunciou ao mandato, para escapar da cassação pedida pelo PTB.

Em entrevista, Valdemar chegou a envolver Alencar no acordo que selou a aliança entre PT e PL. A negociação, segundo ele, envolveu uma ajuda financeira dos petistas de R$ 10 milhões. Segundo o presidente do PL, o PT acabou não fazendo os repasses durante a campanha presidencial. Parte do dinheiro (R$ 6 milhões), segundo Valdemar, foi transferido por Delúbio Soares depois da eleição, por meio do empresário Marcos Valério.

A permanência de Valdemar no comando do partido desagradou o vice-presidente, que tentou negociar a saída do ex-deputado. No início da semana, ao falar de Valdemar, Alencar afirmou que líderes partidários deveriam se afastar quando cometeram irregularidades, pois ''não há espaço na vida pública para falcatruas''. E chegou a ressaltar que é melhor ser ''incompetente do que ser corrupto''.

O PL tem três deputados com pedido de cassação aprovado pelas CPIs do Congresso - Carlos Rodrigues (RJ), Wanderval Santos (SP) e Sandro Mabel (GO), líder na Câmara.

A saída de José Alencar é mais uma etapa do troca-troca partidário impulsionado pelo prazo eleitoral. É no PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), que a debandada promete ser maior. O deputado federal Delfim Netto (SP) confirmou a troca do PP pelo PMDB. A saída de Delfim do partido é negociada há semanas. Ele chegou a receber convites do PTB e do PFL, mas optou pelo PMDB por questões da política paulista. Pratini de Moraes, ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso, se filiou nesta semana ao PFL.

Nas próximas semanas, Ivan Ranzolin (SC) também deve ir para o PFL. Outros que estudam convites para mudar de sigla são Ricardo Barros (PR) e Francisco Turra (RS). Barros, líder no governo Fernando Henrique, deve se reunir com o ex-presidente tucano nos próximos dias para definir o futuro político-partidário.