O Estado de São Paulo, n. 46655, 13/07/2021. Política p.A6

 

Deputados 'sub-30' cogitam troca de sigla

Camila Turtelli

Anne Warth

Titulares do “time sub-30” da Câmara, jovens deputados têm negociado seus passes com partidos como PSL, Cidadania, MDB, PSDB, Progressistas, PSD e Podemos. Destaques no plenário e nas redes sociais, parlamentares como Tabata Amaral (PDT-SP), Felipe Rigoni (PSB-ES), Kim Kataguiri (DEM-SP), Enrico Misasi (PV-SP) e Luisa Canziani (PTB-PR) estão na mira de legendas que querem renovar seus quadros e ganhar uma cara mais jovem e moderna para as eleições de 2022.

A maioria dos 14 deputados com até 30 anos recebeu convites para “pular a cerca” partidária. Nem todos pretendem deixar suas atuais legendas, mas negociam mais liberdade e espaço nas decisões que, em geral, são tomadas por “caciques” das siglas. Enquanto alguns buscam “novos desafios” por causa de divergências internas, outros estão mesmo atrás da sobrevivência política, já que o fim das coligações e o fantasma da cláusula de barreira vão dificultar a vida dos partidos menores nas eleições de 2022.

Rigoni é um dos assediados por vários partidos, mas ainda não decidiu se vai para o DEM ou PSDB. Eleito em 2018 para seu primeiro mandato, ele ganhou voz nas principais discussões da Câmara, principalmente as relacionadas à educação.

Em abril, o Tribunal Superior Eleitoral assegurou a Rigoni o direito de mudar de legenda sem correr o risco de perder seu mandato. “Não quero mais fazer parte de um partido e ficar deslocado. No próximo, vou querer participar das decisões, construir junto. Fundo partidário é menos importante pra mim. Estou procurando quem está topando a terceira via”,disse.

Tabata Amaral, que rompeu com o PDT após votar a favor da Reforma da Previdência, também garantiu no TSE o direito de mudar de legenda sem perder o mandato. Outra ativista da área de educação, é assediada por diversos partidos.

O Cidadania, por exemplo, extinguiu a regra que obriga um parlamentar a votar conforme orientação da legenda. Foi uma mudança sob medida para atrair Tabata. A deputada, porém, está mais próxima do PSB, partido de seu namorado João Campos, ex-deputado e atual prefeito do Recife (PE).

Quem não buscou a Justiça, terá de esperar até março de 2022, quando se abre a próxima “janela partidária” – período de seis meses que antecede a eleição e no qual deputados podem trocar de legenda, sem correr o risco de perder o mandato. Mas líderes mais experientes admitem, nos bastidores, que a decisão do TSE sobre Rigoni e Tabata rasgou não apenas a fidelidade partidária como um dos pilares das legendas: o chamado “fechamento de questão”, quando a sigla decide um posicionamento conjunto a ser seguido por todos os parlamentares.

 

Rebeldes. Muitos desses deputados “sub-30” se destacam por posicionamentos mais ao centro e por votarem contra a orientação de seus partidos em temas caros para as siglas tradicionais. É o caso de Kim Kataguiri, ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL), que contrariou os interesses da sigla ao votar contra a redação final da medida provisória de privatização da Eletrobrás e à Lei dos Partidos.

Enquanto o DEM se mantém próximo ao presidente Jair Bolsonaro, Kim é um crítico contumaz do atual governo. O deputado não quis comentar os convites que tem recebido, mas o Estadão/broadcast apurou que o PSL foi um dos que sondaram o parlamentar.

Próxima do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-al), a deputada Luisa Canziani (PTB-PR) também deve deixar a sigla em breve. “O PTB virou uma seita”, disse ela, referindo-se aos posicionamentos da legenda presidida pelo ex-deputado Roberto Jefferson, fiel a Bolsonaro. Luisa também recebeu convites do PP e do PSD, mas ainda não decidiu seu novo destino.

Outros parlamentares mais jovens têm resistido ao assédio e garantem que vão se manter onde estão. Aos 26 anos, Emanuel Pinheiro (PTB-MT) disse ter recebido convite de ao menos cinco legendas, mas garante não ter a intenção de deixar a sigla. “Trabalho para fortalecer o PTB”, afirmou.

Líder da bancada do PV na Câmara, Enrico Misasi reconhece o assédio sobre ele e outros jovens parlamentares, mas não pretende migrar: “Perceberam que tem um pessoal da renovação política, que entrou para fazer política a sério e para construir política pública, não para colocar fogo no parquinho”.

 

Renovação. Dirigentes de partidos admitem a busca por nomes jovens e de destaque na política para a renovação de seus quadros nas eleições de 2022. Alguns oferecem fatias generosas do fundo eleitoral e tempo de TV para campanhas. Outros prometem autonomia dentro das agremiações. A presidente do Podemos, Renata Abreu (SP), por exemplo, confirma ter convidado alguns desses parlamentares: “Buscamos os oriundos de movimentos (de renovação política), que não ficam na aba de governo nenhum”.

Por trás da sondagem aos parlamentares mais jovens está uma tentativa de renovação de imagem e até de sobrevivência dos partidos tradicionais, disse o cientista político do Instituto Travessia, Bruno Soller. “Deputados jovens ajudam a suavizar a imagem dos partidos e a eleger outros parlamentares nos Estados”, afirmou. Já os assediados, disse o cientista político, especialmente quem rompeu com a sigla original, também precisa de novas legendas para garantir a reeleição.

 

Deputados

14

que ainda não completaram 30 anos cogitam mudança de partidos para “ter mais liberdade” ou buscar novos desafios