O Globo, n. 32750, 07/04/2023. Brasil, p. 9

Reação e choque

Liliani Bento
Paula Ferreira
Pâmela Dias
Rayanne Rocha
Paulo Assad


O governo federal planeja um protocolo para orientar escolas sobre como responder a ataques e criar um disque denúncia específico para casos de violência. Foram as primeiras medidas discutidas pelo grupo de trabalho interministerial instalado na quarta-feira depois de mais um ataque a a instituições de ensino, em que um homem matou quatro crianças e feriu outras cinco na Creche Cantinho do Bom Pastor, em Blumenau (SC).

O ministro da Educação, Camilo Santana, disse que o MEC vai encomendar uma pesquisa para mapear a violência nas escolas. O grupo pretende lançar editais de incentivo à cultura de paz nas unidades de ensino.

—Teremos ações mais urgentes, a médio prazo e longo prazo —explicou.

O MEC pretende reforçar a formação de professores para mediação de conflitos. A pasta quer envolver estados e municípios e avalia a possibilidade de repassar recursos via Programa Dinheiro Direto na Escola para incentivar ações de combate à violência.

O grupo vai concluir os trabalhos em 90 dias, quando apresentará uma Política Nacional de Enfrentamento à Violência nas Escolas. A equipe também pretende expandir as iniciativas para o ensino superior.

Além de Camilo, participaram da reunião ontem as ministras da Saúde, Nísia Trindade; do Esporte, Ana Moser; dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida; e o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Capelli.

— Temos um programa criado em 2003, o Saúde na Escola. Queremos fortalecê-lo nessa visão abrangente de prevenção e trabalhar com foco na juventude — disse Nísia.

— A violência muda suas formas, e temos outros fenômenos em que a comunicação tem um componente fundamental.

Prisão preventiva

As crianças mortas no ataque à Cantinho Bom Pastor foram enterradas ontem. Mais de 2 mil pessoas foram se despedir na madrugada e de manhã. As quatro crianças que foram feridas e precisaram ser internadas receberam alta ontem do Hospital Santo Antônio.

O autor do ataque teve a prisão preventiva decretada pela Justiça após passar por uma audiência de custódia na tarde de ontem. A partir de agora, o processo seguirá em sigilo, por envolver crianças, na 2ª Vara Criminal de Blumenau.

O mecânico Fabio Junior Hrenzer Santos, de 42 anos, disse acreditar que o filho de 5 anos, um dos cinco feridos, teve “um livramento” ao conseguir se salvar mesmo depois de ser agredido pelo invasor.

— No hospital, meu filho contou que a professora mandou ele correr muito rápido. Meu menino foi um herói. Mesmo ferido, ele correu. Todas as professoras, policiais e equipe médica foram heróis também — relata Hrenzer.

Hrenzer disse que apesar de o filho ter sido atingido no rosto, o golpe não afetou nenhuma área vital. O pai classificou o ataque como terrorismo e pediu mais segurança nas instituições de ensino.

—Todos os dias levo meu filho para a escola e depois vou trabalhar, e é horrível saber que ele não está seguro. A Justiça também falhou em não parar esse criminoso antes, ele tinha passagens pela polícia e continuou solto —criticou.

No hospital, Fabio conta que as crianças diziam não querer voltar à creche.

Esclarecimento

Os veículos do Grupo Globo tinham há anos como política publicar apenas uma única vez o nome e a foto de autores de massacres como o ocorrido em Blumenau. O objetivo sempre foi o de evitar dar fama aos assassinos para não inspirar autores de novos massacres. Essa política mudou a partir de quarta-feira e será ainda mais restritiva: o nome e a imagem de autores de ataques jamais serão publicados, assim como vídeos das ações.

A decisão segue as recomendações mais recentes dos mais prestigiados especialistas no tema, para quem dar visibilidade a agressores pode servir como um estímulo a novos ataques. Estudos mostram que os autores buscam exatamente esta "notoriedade" por pequena que seja. E também não noticiamos ataques frustrados subsequentes, para conter o chamado “efeito contágio”. *