Título: A pior emergência da história
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/09/2005, Internacional, p. A8
A gigantesca inundação causada pelo furacão Katrina já é a maior emergência enfrentada pelos Estados Unidos, tendo superado até os atentados de 11 de setembro de 2001 e a passagem do furacão Andrew, em 1982. A dimensão humana da catástrofe ainda é desconhecida, muito embora ninguém trabalhe com uma perspectiva abaixo da casa de milhares de mortos ¿ tanto pela inundação quanto pela falta de água, comida ou socorro decorrentes da suspensão das ações de resgate em função da violência nas ruas. Mas um cálculo estimado de prejuízos supera os US$ 100 bilhões, dos quais US$ 29 bilhões apenas para o pagamento de seguros, bem acima dos US$ 47 bilhões do Andrew. A conta foi feita pela empresa Risk Management Solutions, especializada em projeção de modelos de tempestades e os parâmetros surpreendem pela grandeza. Em sua passagem, o Katrina destruiu 150 mil propriedades, residenciais e comerciais. Os custos provocados pela interrupção das atividades das empresas devem passar de US$ 100 milhões diários, avalia a Risk. O dano social, a longo prazo, é o que mais impressiona, já que se refletirá na atividade econômica.
¿ O furacão simplesmente extinguiu 500.000 empregos em instantes, ¿ afirma o economista Ian Sheperdson, da consultoria High Frequency Economics, de Valhalla, Nova York. ¿ Nas próximas semanas haverá pouco ou nada a fazer por toda essa gente na área mais atingida ¿ completa.
De acordo com a Risk Management, as conseqüências da inundação em Nova Orleans para a economia dependerão muito da agilidade das autoridades para reagir a esse acontecimento ¿ completa Laurie Johnson, vice-presidente da empresa, sem vincular a questão às críticas feitas às autoridades federais em função da lentidão e incapacidade de reagir a um evento de tal magnitude. O presidente dos Estados Unidos, George Bush, no entanto, prometeu reconstruir a região do Golfo no menor prazo possível. Verba emergencial, de US$ 10,5 bilhões, foi aprovada ontem pelo Congresso, mas deverá ser apenas uma fração da necessária.
¿ Este é o maior desastre natural que os EUA já viram em termos de abrangência e profundidade ¿ atesta Tiziana Dearing, diretora do Hauser Center for Nonprofit Organizations na Universidade Harvard.
Só 45% das residências de Nova Orleans têm seguro contra enchentes fornecido pelo National Flood Insurance Program (Programa Nacional de Seguros contra Enchentes), do governo. A maioria da apólices fora dele excluem danos causados por inundações e, mesmo assim, os que possuem tal proteção são a minoria de proprietários de imóveis mais caros. Em Nova Orleans, pelo menos 28% da população estão abaixo da linha de pobreza.
A devastação é de tal ordem que solapou toda a estrutura urbana, como pontes, estradas e redes de energia. O primeiro passo para a reconstrução é descobrir o quanto há a ser feito. Algo até agora, segundo especialistas, impossível de ser calculado.
¿ Não há ninguém na face da Terra que possa dar essa informação agora ¿ atesta Brian Taylor, professor de planejamento urbano na Universidade da Califórnia (UCLA). ¿ Ainda estamos tentanto conseguir lanternas e nadar pela cidade para ver o que sobrou ¿ completa.
O colega Jeffrey Brown, professor na Universidade da Flórida, avalia que o custo total da catástrofe ainda é um exercício de cálculo para o qual há pouca comparação.
¿ Nenhum modelo que temos chega sequer perto do que aconteceu ali ¿ define Brown, especialista em financiamento para obras de infra estrutura. ¿ Serão mesmo muitos bilhões de dólares ¿ complementa.