O Estado de S. Paulo, n. 46644, 02/07/2021. Economia, p. B3

'Vejo razões positivas com o curto prazo'

Entrevista: Ana Paula Vescovi, Economista-Chefe do Santander


Economista-chefe do Santander e ex-secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi diz que, com base em uma revisão dos cenários econômicos feita pelo banco, a perspectiva da economia brasileira é de melhora no curto prazo, mas de cautela no médio prazo. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Há muito otimismo em relação à recuperação econômica?

Vejo razões mais positivas com o curto prazo porque tivemos uma melhora, estamos vendo a vacinação avançar e temos uma certeza maior de que estamos num processo gradual da fase mais crítica da pandemia. Ainda precisamos observar melhor como vai ser essa saída da pandemia.

O que será chave?

Como vai se comportar esse ciclo de commodities, que é um dos elementos que ensejaram esse otimismo recente. O ciclo de commodities trouxe vantagens, mas trouxe um surto inflacionário importante.

Haverá pressão por reajuste dos servidores que estão com salários congelados?

Já começamos a ver reivindicações sobre reposição inflacionária. Afinal, são dois anos em que o Brasil tem uma inflação acumulada de 10%. Uma percepção de que os ganhos são permanentes, e não fruto de um ciclo temporário de commodities, pode ensejar uma percepção de mais sobra de gasto do que efetivamente a gente tem. Se tivermos certos no nosso cenário sobre o ciclo de commodities, haverá normalização de preços até 2023.

Onde há exagero no otimismo com a recuperação?

Estamos num choque cíclico para depois se acomodar e voltar a tendência de longo prazo. Os Estados Unidos já sinalizam que, no início do ano que vem no máximo, vão começar a tirar parte dos estímulos, e em 2023 devem voltar a subir a taxa de juros.

O que significa para o Brasil?

Essa é janela de oportunidade que temos para normalizar a nossa política monetária (aumentar os juros) e fazer as reformas. / A.F.