Correio Braziliense, n. 21502, 29/01/2022. Brasil, p. 6

País teve 140 assassinatos de trans em 2021

Thays Martins
Maria Eduarda Angeli*


Às vésperas do Dia da Visibilidade Trans, celebrado hoje, um levantamento feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) mostrou que pelo menos 140 transexuais e travestis foram assassinados no Brasil em 2021. O número representa uma queda de 20% em relação a 2020, quando chegou a 175. Ainda assim, o país continua sendo o que mais mata pessoas trans no mundo pelo 13° ano consecutivo.

A data destinada à visibilidade trans surgiu em 2004, quando ocorreu a primeira mobilização organizada da comunidade LGBTQIA+, na Praça dos Três Poderes, para reivindicação de direitos. Na época, a campanha fez com que o Ministério da Saúde criasse um comitê técnico específico para pensar em políticas públicas destinadas a essa parcela da população. O termo trans é utilizado para se referir a alguém que não se identifica com o gênero ao qual foi designado quando nasceu, e abrange pessoas transgêneras, transexuais, travestis e não binárias.

Em 2021, foi registrada o óbito da pessoa trans mais jovem em cinco anos de monitoramento — Keron Ravach, de 13 anos, morta a pauladas no Ceará. Ela também foi a pessoa trans mais jovem a ser assassinada no mundo no ano passado.

Negros e jovens

De acordo com o relatório da Antra, 81% das vítimas eram pessoas negras — 135 do total de 140 — e a idade média foi de 29,3 anos. O dossiê, que é apresentado há cinco anos, é o único que contabiliza os homicídios de pessoas trans no Brasil e foi entregue à Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

Os dados mostram que pelo menos 72% dos crimes envolveram requintes de crueldade. Pelo menos quatro vítimas foram queimadas vivas e em 54% dos casos as vítimas receberam golpes, socos, facadas e/ou tiros.

A Antra destaca que o Brasil não tem promovido políticas públicas para proteger essa população. “O Brasil não tem assumido a proteção de raça em suas ações governamentais, campanhas e políticas públicas, mesmo comprometendo-se nas assembleias da ONU e junto a outros órgãos internacionais”, afirma.

Segundo a ONG Transgender Europe, que faz o monitoramento mundial de casos, de cada 10 assassinatos de pessoas trans, quatro ocorrem no Brasil.

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi