O Estado de S. Paulo, n. 46645, 03/07/2021. Internacional, p. A12

Israel descartará 1 milhão de doses por falta de acordo



Mais de um milhão de doses da vacina da Pfizer/biontech armazenadas em Israel e com validade até o final de julho podem ser jogadas fora depois que as tentativas de negociar um acordo de troca com o Reino Unido falharam, informou ontem o jornal britânico The Guardian.

Israel ofereceu as doses ao Reino Unido em troca de um número semelhante de vacinas que os britânicos deveriam receber da Pfizer em setembro. As autoridades de saúde em Londres querem vacinar o máximo da população adulta possível antes que as restrições contra a covid sejam suspensas no final deste mês.

Na quinta-feira, o Canal 12 de Israel disse que as negociações com o Reino Unido estavam em estágio avançado. Mas autoridades israelenses disseram, mais tarde, que problemas técnicos atrapalharam o negócio. “Houve discussões entre Israel e o Reino Unido sobre a possibilidade de troca de vacinas, mas, infelizmente, apesar da vontade de ambas as partes, por motivos técnicos, não deu certo”, disse um porta-voz da chancelaria israelense.

Segundo o Canal 12, a Pfizer rejeitou um pedido de Israel para estender a data de validade das vacinas, justificando que não poderia garantir que as doses estariam seguras depois de 30 de julho. Até agora, não há perspectiva de que o Reino Unido queira fazer um novo acordo de troca com outros países, segundo o Guardian.

A Organização Mundial da Saúde orienta os países a não descartarem nenhuma dose de vacinas contra a covid-19 que esteja perto da validade, ou mesmo vencida, até que saiam os resultados de uma pesquisa para saber se os imunizantes ainda poderiam ser úteis por mais tempo.

Em 18 de junho, a Autoridade Palestina anulou um acordo com Israel para receber 1 milhão de doses de vacinas contra a covid-19 porque esses imunizantes estavam prestes a expirar. Nas redes sociais, fotos de doses da Pfizer com a inscrição “junho de 2021” foram compartilhadas.

Israel tinha anunciado um acordo segundo o qual transferiria à Autoridade Palestina 1 milhão de suas doses. Em troca, os palestinos teriam de devolver as doses que a empresa Pfizer enviará a eles entre setembro e outubro.

“Depois que o primeiro lote das vacinas da Pfizer entregue por Israel foi analisado pelas equipes técnicas do Ministério da Saúde, descobrimos que não estão em conformidade com as características do acordo”, declarou o porta-voz do governo palestino, Ibrahim Melhem.

O Ministério de Saúde israelense disse que a “transferência de vacina à Autoridade Palestina estava perfeitamente em ordem”, acrescentando que as datas eram de conhecimento dos dois lados.

Israel havia informado que o acordo tinha sido feito após o país constatar que sua reserva de vacinas responde às suas necessidades atuais. Graças a uma ampla campanha de vacinação, lançada no fim de dezembro, após um acordo com a Pfizer, cerca de 57,1% da população israelense tinha recebido duas doses de vacina até quarta-feira.

Preocupações. Na quinta-feira, Israel, líder mundial em vacinações, relatou sua maior taxa de infecção diária em três meses, enquanto luta para conter a disseminação da nova variante Delta. As autoridades estão correndo para vacinar crianças e considerando restrições de viagem mais rígidas no aeroporto de Tel-aviv.

Na semana passada, o governo israelense adiou a planejada reabertura do país para turistas vacinados, pelo temor de uma disseminação da variante. O Ministério da Saúde relatou, na quinta-feira, 307 novos casos em 24 horas. O ministério teme que esses números aumentem nos próximos dias, levantando preocupações de que Israel poderia mergulhar de volta em uma crise sanitária.

Imunização

57,1%

da população israelense – 5,7 milhões de pessoas – já recebeu as duas doses da vacina. No Reino Unido, 49,6% da população – 33 milhões – está totalmente imunizada