Título: Presidente muda discurso e cita até provável queda de juros
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 06/09/2005, País, p. A2

A mesma crise e, em pouco mais de um mês, dois discursos radicalmente diferentes sobre a economia. Na época em que era apresentada a lista de sacadores das contas de Marcos Valério ¿ quando o país também tomava conhecimento do Land Rover dado de presente ao ex-secretário-geral do PT, Silvio Pereira ¿ o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um pronunciamento em que mostrava como a economia brasileira ainda era vulnerável, sujeita a retrocessos. Ontem, o cenário apresentado era outro. Em discurso para empresários dos supermercados, o presidente, que tem evitado dar entrevistas, se apresentou como guardião dos bons ventos que sopram na economia. Chegou até a acenar com a provável e próxima queda dos juros.

¿ Com todo esse conflito político, se alguém achou que iria acertar a economia e que o país iria sair do trilho, caiu do cavalo, porque a economia está cada vez mais sólida ¿ disse o presidente em discurso na abertura da 39ª Convenção Nacional dos Supermercados, em São Paulo.

Na manhã de ontem, no programa de rádio Café com o presidente, Lula já havia comemorado o crescimento de 1,4% da economia no segundo trimestre do ano. No encontro com os empresários, ainda falando sobre a economia, Lula admitiu que as denúncias que envolvem seu partido e legendas da base aliada, vão levar à punição de parlamentares. Fez, como há pouco mais de um mês, uma relação entre a crise e os seus possíveis efeitos sobre a economia. Só que o ponto de vista mudou.

¿ A crise pode prejudicar um político, dois políticos, 30 políticos, mas a economia, enquanto eu for presidente da República, podem ficar tranqüilos que nós iremos enfrentar qualquer situação para não permitir que o nosso querido Brasil e, sobretudo, o povo mais pobre, sofra qualquer retrocesso com mudanças na política econômica ¿ disse.

Lula citou dados positivos da economia, com destaque para os números do PIB, que mostraram na semana passada um crescimento maior que o esperado no segundo trimestre deste ano.

¿ Não façam previsões pessimistas, porque a economia pode surpreender. O Brasil, acreditem, entrou num ciclo virtuoso de crescimento. Segundo ele, a inflação está controlada e isso aumenta a expectativa de uma redução dos juros pelo Banco Central neste mês.

¿ Obviamente que nós entendemos que os juros agora têm que entrar numa rota, eu acho, diferentemente da que houve até agora, porque a inflação me parece que está definitivamente controlada ¿ disse.

Perguntado sobre as eleições, ele voltou a assegurar aos empresários que não governa com esta meta.

¿ Nós não queremos governar este país pensando nas próximas eleições, até porque eu dizia, durante a campanha, que o nosso malé que as pessoas só pensam o Brasil de quatro em quatro anos. O país só será grande e, definitivamente, uma nação rica, se a gente projetar para 15, 20 ou 30 anos.

Durante seu discurso, o presidente afirmou ainda que vem sofrendo pressões em função do momento político. Citou o salário mínimo, a taxa de juros e o câmbio como áreas em que pedem para que ele atue acima de suas possibilidades.

¿ Não pensem que as pressões que nós sofremos diariamente não são muitas. Eu perco um voto, perco o amigo, mas não perco a seriedade com que eu tenho que tratar as questões políticas deste país ¿ disse.

No encontro, o presidente anunciou a criação da Secretaria de Comércio e Serviços, subordinada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, voltada a políticas para o setor de supermercados. O governador de São Paulo em exercício, Claudio Lembo (PFL), também presente à cerimônia, mencionou indiretamente a crise política ao falar sobre a possibilidade de tudo acabar pizza.

¿ Espero que pizzas reais sejam mais vendidas do que as simbólicas ¿ disse. Lembo substituiu Geraldo Alckmin (PSDB), que está em viagem pela Alemanha.