Título: Um jeito antigo de fazer política
Autor: Fernando Exman e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 06/09/2005, País, p. A3

Se nos últimos dias, o bombardeio contra ele aumentou, não se pode dizer que o pernambucano Severino José Cavalcanti Ferreira, 74 anos, estava levando vida mansa desde que surpreendeu o país, elegendo-se presidente da Câmara, no início do ano. Por suas falas, conceitos e atitudes, têm sido alvo de críticas constantes, não só de políticos, mas de amplos setores da sociedade, sem falar nos caricaturistas, que o transformaram num dos seus personagens favoritos. No meio acadêmico, Severino é unanimidade: representa a política à moda antiga, paroquial, encabrestada, voltada para a satisfação de interesses menores e sempre avessa à discussão madura dos principais problemas do país. O apetite voltado para ''aquela diretoria da Petrobras que fura poço'', conforme deixou claro, resumiria o velho costume de tentar se apoderar de fatias generosas do aparato estatal, forma corrente de garantir a conservação e reprodução de mandatos.

O mesmo personagem que vira a cara para os homossexuais e os movimentos sociais, não apresenta igual rancor contra o nepotismo. Ao contrário, manifesta até simpatia. A nomeação do filho para um importante cargo federal, em Pernambuco, virou evento nacional. Não foi por acaso que o representante máximo do baixo clero baseou a campanha em melhores salários e mais mordomias para os deputados. Se a reação da opinião pública impediu que elevasse os salários dos colegas, pelo menos conseguiu aumentar a verba de gabinete dos parlamentares. E caso se confirme que tentou incrementar de forma pouco ortodoxa a sua própria verba mensal, sairá da cena de forma tão rápida e surpreendente como entrou.