Título: Lula comanda operação para salvar o aliado Severino
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 06/09/2005, País, p. A4

Convencido de que uma eventual mudança no comando da Câmara será prejudicial ao governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu intervir para baixar a temperatura dos ataques ao presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE). Em reuniões à tarde na Granja do Torto, instruiu os ministros do núcleo político a atuar como bombeiros: mobilizar lideranças do PT e do governo no Congresso para atenuar o tom do discurso contra o aliado. Reportagem da revista Veja informa que Severino recebeu propinas mensais de R$ 10 mil entre março e novembro de 2003 de Sebastião Augusto Buani, concessionário de um dos oito restaurantes da Câmara. No início da noite, os efeitos da operação palaciana já podiam ser observados nas declarações do líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).

¿ Não existe a figura regimental do afastamento. O Severino já soltou duas notas se defendendo. A melhor coisa é esclarecer ¿ afirmou Chinaglia afinado com o discurso tramado no Planalto segundo o qual a oposição se utilizaria de uma figura jurídica inexistente para mudar o foco das investigações.

¿ O foco era Eduardo Azeredo que ficou fora do relatório da CPI. Então fizeram essa jogada de marketing anti-regimental ¿ corroborou auxiliar de Lula.

Os líderes do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), também foram orientados. Na avaliação de ministros do Gabinete da Crise, a renúncia de Severino guindaria ao cargo o ¿imponderável¿ encarnado na figura do vice Thomaz Nonô (PFL-AL). Um problema, já que o palácio sabe que o comandante da Câmara evitará qualquer tentativa de impeachment pela oposição.

Embora o governo avalie que a crise caminha para o fim, é quase unânime no Planalto a interpretação de que Lula perde popularidade e dois de seus mais próximos auxiliares ainda podem ser atingidos durante as investigações: o chefe da gabinete, Gilberto Carvalho ¿ envolvido na apuração sobre o assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel ¿ e o ministro Antonio Palocci, agora acusado de fraudar o fisco num processo de compra de imóveis.

Por isso, o governo trabalha para se antecipar a turbulências futuras na área política. Especialmente no Congresso onde, segundo ministros do governo, o presidente não pode mais ter sobressaltos. Não foi à toa que Lula tratou em junho de incorporar à Esplanada mais um nome do PMDB, indicação do ex-presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP) e do PP de Severino. De acordo com um auxiliar do presidente, alvejado pelas denúncias do mensalinho, Severino teria pedido a Lula que o blindasse. Desde a eclosão das denúncias de corrupção, caixa 2 e mensalão, ele e Lula se aproximaram e passaram a marcar cafés-da-manhã semanais. Nos encontros, avaliam a crise e os caminhos para a retomada das votações no Congresso.