Título: América pode aprender com os 'pobres'
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 06/09/2005, Internacional, p. A8

Muitas das lições necesssárias para que a tragédia do Katrina não se repita na América estão em países pobres, que completam um cenário onde, estatisticamente, o mundo se tornou muito menos seguro. Segundo as Nações Unidas, 2,5 milhões de pessoas sofreram com a fúria da natureza em enchentes, terremotos, furacões etc entre 1994 e 2003. O número representa um aumento de 60% em relação aos dez anos anteriores. O dado, apresentado em janeiro, ainda não inclui os milhões de deslojados e os mais de 220 mil mortos no tsunami de dezembro, na Ásia. A soma das vítimas do maremoto com a o Katrina deve fazer a conta explodir. Paralelamente, a expansão da população americana empurrou muitos para áreas de risco como Flórida, o Golfo do México e a Califórnia.

- Há décadas não tínhamos casas coladas parede contra parede nessas regiões costeiras como acontece agora - estima o sismólogo Robert M. Hamilton, um especialista em prevenção de desastres que trabalhou para o governo.

A forma como os americanos constroem suas edificações também é um convite ao desastre. Isso inclui a dragagem de pântanos na Flórida e o desmonte de colinas na Califórnia.

- Estamos erguendo casas e prédios de uma forma incompatível com os perigos naturais dessas regiões - afirma Dennis S. Miletti, especialista da Universidade do Colorado.

Mais avançadas as nações, maiores os choques. Terry Jeggle, analista da ONU, diz que em Nova Orleans o complexo sistema de diques dependia de bombas movidas por geradores a diesel. Quando a luz acabou, o sistema ruiu.

Daí a importância de medidas práticas adotadas por países pobres, como em Cuba. O país não registrou mortes na passagem do furacão Ivan em 2004, o pior em 50 anos. Mesmo enfraquecido, o Ivan matou 25 nos EUA. O sucesso de Havana está ligado à evacuação bem planejada e executada. Entre as medidas de sucesso, uma das mais simples foi adotada nos bairros, onde as casas eram checadas pela própria vizinhança. Assim ninguém ficou para trás.

Em Bangladesh, 33 mil voluntários estão aptos a conduzir a população a abrigos de concreto quando há sinais de tormenta no Golfo de Bengala. Já a Jamaica fez exercícios de evacuação de larga escala que permitiram minorar os efeitos do Ivan. Além disso, a população foi treinada em fazer operações de busca e salvamento em destroços e a operar alarmes de enchentes.