O Estado de S. Paulo, n.
46645, 03/07/2021. Economia, p. B15
Empresas falham com os
negros americanos
Michael Corkery
Quando a Target anunciou a abertura de uma loja em Mondawmin,
bairro predominantemente negro de Baltimore, uma cidade que luta contra o crime
e a pobreza, a esperança era de uma reviravolta. Desde o início, a loja foi um
sucesso e o motivo de orgulho da comunidade. A Target, aberta em 2008, tinha um
supermercado, operava uma farmácia e um café Starbucks – o único nesta parte da
região mais ao sul do município.
As pessoas atravessavam
a cidade para fazer compras ali, e isso contribuiu para melhorar a reputação de
Mondawmin, conhecida pelos crimes e saques que
acompanharam os protestos contra a morte em 2015 de Freddie
Gray, quando estava sob custódia da polícia. Como empregadora, a Target parecia
atender às necessidades da comunidade, contratando funcionários negros e
oferecendo um escritório na loja para um assistente social dar suporte aos
empregados. Elijah Cummings, congressista de
Baltimore, costumava fazer compras ali.
Em fevereiro de 2018,
porém, sem nenhum aviso ou explicação, a Target fechou a loja. Os moradores,
especialmente aqueles sem carro, perderam um local conveniente para fazer
compras de produtos de qualidade. E, repentinamente, foi removido um marco da
autoestima da comunidade. "A abertura de uma loja como a Target num bairro
afro-americano conferiu legitimidade a essa área", afirmou o reverendo
Frank Lance, pastor da Mount Lebanon
Baptist Church em Mondawmin. "Quando a loja foi fechada, foi como dizer:
'Vocês não têm nenhum valor'".
Três anos depois, a loja
continua vazia, e seu fechamento ainda é lastimado pelos moradores da
comunidade e pelas autoridades de Baltimore, que esperavam que o negócio
contribuísse com seus esforços de revitalização daquela região.
Muitos comércios
enfrentaram críticas no passado por não abrirem estabelecimentos em comunidades
negras e pobres, criando desertos na oferta de produtos alimentícios e não
dando a elas o acesso a artigos de qualidade. Em Mondawmin,
a Target investiu numa área problemática, mas o resultado foi mais
desalentador: a companhia no final decidiu que, apesar dos seus objetivos
sociais, a loja não era financeiramente viável para ser mantida aberta.
O fechamento foi uma
advertência objetiva sobre as realidades do capitalismo em um momento em que as
empresas fazem promessas de apoio aos americanos negros, afirmando que seu
compromisso com a igualdade racial está mais forte do que nunca. Neste ano, a
Target fez uma promessa pública de ajudar as comunidades negras em todo o país
depois do assassinato de George Floyd na cidade de Minneapolis, onde a
companhia tem sua sede, prometendo investir US$ 2 bilhões em pontos comerciais
de propriedade de negros e outros negócios.
Em um comunicado em
resposta à pergunta sobre a loja de Mondawmin, um
porta-voz da Target afirmou que o fechamento foi "medida de último
recurso" e só ocorreu após "uma avaliação consistente do péssimo
desempenho depois de vários anos de investimentos visando ao seu sucesso".
A companhia sublinhou
que reconstruiu e reformou lojas em Atlanta, Filadélfia, Minneapolis e Oakland,
Califórnia, danificadas por ocasião dos protestos no ano passado, e que abriu
novas lojas em outras comunidades com população diversificada.
Em muitas dessas
unidades novas e reformadas, "já estamos observando progresso" em
termos de desempenho, disse o portavoz da Target. Ele
acrescentou que a estratégia de longo prazo da empresa envolveu "ouvir a
opinião dos moradores locais e oferecer experiências que melhor representam
suas necessidades".
Como outras grandes
varejistas, a Target fechou inúmeras lojas nos últimos anos tendo criado uma
empresa de e-commerce muito bem-sucedida. Mas, como no caso de Mondawmin, os fechamentos em bairros negros atingiram mais
duramente as comunidades. / Tradução de Terezinha Martino
Em alta
US$ 15 bi
foi o crescimento nas vendas da Target em 2020,
maior que nos 11 anos anteriores, com um aumento de 145% no e-commerce.