Correio Braziliense, n. 21533, 01/03/2022. Política, p. 6

PT busca receita para gastar

Deborah Hana Cardoso
Raphael Felice


Responsável por uma grave crise econômica no Brasil com o governo de Dilma Rousseff, o Partido dos Trabalhadores enviou emissários ao redor do mundo em busca de exemplos para a implementação de um novo marco fiscal no Brasil, em caso de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições deste ano. Na esteira da revogação da reforma trabalhista na Espanha, o partido enviou um emissário à Coreia do Sul para entender o “New Deal sul-coreano”, que injetou US$ 133 bilhões para estimular o crescimento do país em meio à desaceleração provocada pela pandemia de covid-19.

Em 2020, a União Europeia destinou 1,8 trilhão de euros para o bloco se recuperar dos impactos causados pelo novo coronavírus. Em 2021, os Estados Unidos aprovaram um pacote de estímulos fiscais de US$ 1,9 trilhão pelo mesmo motivo. No caso dos EUA, as negociações em Washington se estenderam por meses e só foram aprovadas após a vitória de Joe Biden na corrida à Casa Branca.

Em um cenário de recuperação econômica e marcado por instabilidade — vide os efeitos da guerra na Ucrânia — ganham força as teses que defendem o protagonismo do Estado e metas fiscais menos austeras. Economistas como André Lara Resende, um dos pais do Plano Real, o primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, o presidente da França, Emmanuel Macron e o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) começam a defender a ideia de afrouxamento fiscal e podem servir de exemplo aos emissários do PT.

Nesse contexto, o Partido dos Trabalhadores quer interlocuções no mundo como trunfo político diante do baixo desempenho econômico do governo Bolsonaro. Segundo o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), o governo Lula registrou o maior superavit fiscal e investimentos em programas sociais e audaciosos — entre 2003 e 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu acima dos 3%, menos em 2009 quando o Brasil, assim como outras economias, digeriu a crise do subprime americana ocorrida em 2008. 

Austeridade e fome

Pimenta acredita que o PT tem uma noção mais precisa do equilíbrio entre gastos e política social. “Não pode é submeter o povo a uma política de austeridade que leve à fome, índice de miséria. Precisa de equilíbrio entre responsabilidade fiscal e social”, afirma. Ele observa que o governo não impediu concentração maior de riquezas, na contramão do que partido defende. “Não é possível que durante a pandemia as empresas mais ricas do mundo tenham se tornado ainda mais ricas”, critica. “Se o dinheiro estiver distribuído, a economia aquece, a indústria vende mais, ativa a capacidade de geração de emprego”, acrescenta.

O cientista político Valdir Pucci acredita que o bom trânsito de Lula na comunidade internacional é um ponto favorável. “O Brasil, por causa do seu ex-chanceler, foi considerado um Estado pária. Nesse sentido, quando o PT busca apoio e reuniões com outros países em outros locais, deixa claro que as buscas são por economias abertas”, opina. “Quando o PT conversa com esse tipo de país, quer passar aos investidores de que, se voltar ao poder, a tendência é de que seja até mesmo mais liberal e mais voltado ao mercado”, disse.