Título: Inflação em queda, salários em alta
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 06/09/2005, Economia & Negócios, p. A20
Os trabalhadores obtiveram no primeiro semestre deste ano o melhor resultado nas negociações salariais do primeiro semestre dos últimos dez anos. Pelos cálculos do Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), 84% das categorias com data-base nos seis primeiros meses do ano conseguiram aumentos que compensaram a inflação do período. No ano passado, a taxa de sucesso foi de 76%.
De acordo com o Dieese, os trabalhadores foram bem-sucedidos devido à inflação em queda, apontada por diversos indicadores. De acordo com a entidade, os empresários não teriam sido tão generosos se os preços estivessem subindo a uma taxa maior. No estudo do Dieese, foi levada em consideração a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística (INPC/IBGE), que baliza a maioria dos contratos.
Na elaboração da pesquisa, foram analisadas as negociações de 347 categorias. Desses, o reajuste superou o INPC em 66% dos casos. Para 18% das classes, o ganho salarial cobriu a alta dos preços. Já os trabalhadores de 16% das categorias receberam aumento inferior à inflação.
O Dieese mostra, ainda, que, das negociações que compensaram a inflação, 87% superaram o INPC em até dois pontos percentuais. Já nas categorias que fracassaram, 74% perderam em até um ponto percentual para o INPC. A entidade considera, porém, que a perda para os contratos que não compensaram a inflação não foi tão significativa.
O Dieese verificou que a indústria e o comércio seguem como os setores de maior êxito nas negociações, superando ou compensando as perdas provocadas pela inflação - 89% e 90%, respectivamente. Já os trabalhadores do setor de serviços foram os que menos sucesso tiveram - 73%. A indústria teve a maior proporção de reajustes superiores às perdas apuradas em cada data-base: 78% do setor, contra 73% dos comerciários e 53% dos serviços.
A pesquisa mostra, também, que os empregadores têm recorrido menos a expedientes de diluição dos reajustes, como escalonamento e parcelamento. Os reajustes escalonados recuaram de 11% para 7% entre o primeiro semestre de 2004 e o de 2005. Os parcelamentos foram aplicados em 5% das categorias, contra 30% há dois anos.
Avaliando-se toda a série histórica por semestres, o resultado recorde para os seis primeiros meses só perde para o segundo semestre de 2004, quando 90% das negociações superaram a inflação.
Segundo o Dieese, com base na expectativa de crescimento da economia, é esperado que o movimento de compensação das perdas se mantenha no segundo semestre.