Título: Dólar deixa eletroeletrônicos em alerta
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 06/09/2005, Economia & Negócios, p. A21

A indústria nacional de eletroeletrônicos começou a rever seu ritmo de produção para os próximos meses de 2005. O sinal amarelo veio após a constatação das empresas do setor de que as exportações deixaram de ser um bom negócio por conta da forte valorização do real frente ao dólar. A cautela já surte reflexos na compra de um dos principais insumos da cadeia produtiva do setor, o aço.

- Muitas empresas estão revendo contratos de exportação, principalmente as de linha branca (geladeira, fogões e máquinas de lavar, entre outras). Algumas estão, inclusive, perdendo dinheiro com as vendas ao exterior - revela o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab. A instituição reúne produtores de equipamentos da linha branca, marrom (imagem e som) e portáteis.

Para evitar a elevação dos estoques, os fabricantes optaram por compras de insumos com menor antecedência.

- Somente no primeiro semestre, reduzimos a compra de aço em 17%. Estamos trabalhando praticamente just in time. Não dá para comprar aço ao preço que está para investir nas exportações. O ideal seria fazer este tipo de compra com, pelo menos, três meses de antecedência - explica Paulo Saab.

De acordo com o executivo, a expansão das vendas este ano será tímida, puxada pelo consumo doméstico que, na avaliação de Saab, poderia ser maior se não fosse o alto patamar da taxa básica de juros do país (Selic), atualmente em 19,75% ao ano.

Os números da Eletros vão ao encontro dos do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), que registrou queda de 12% na venda de aço voltado para o segmento de utilidades domésticas. O dados da balança comercial também confirmam o arrefecimento das exportações do setor: as vendas de lavadoras de roupa ao exterior, por exemplo, caíram 6,8% no primeiro semestre, e as de máquinas de costura, 50,8%. As exportações de refrigeradores e congeladores, somente em julho, recuaram 3,7%.

A estimativa da Eletros é de que as vendas do setor cresçam este ano até 6%, desconsiderando a influência dos DVDs, impulsionadas por outros itens da linha marrom.

No primeiro semestre, as vendas do aparelho tiveram incremento de 122,2%, elevando a média do setor para 16,8%. Excluindo o efeito DVD, porém, esta média cai para 8%.

A linha branca, no entanto, deve apresentar um resultado bem menos expressivo. No acumulado até julho, as vendas de eletrodomésticos de linha branca tiveram expansão de 5,6%.

- O ano de 2005 não será de todo ruim para o segmento de linha branca porque, depois de recuperar perdas em 2004, este será um período de retorno - comenta o o presidente da Eletros.