O Globo, n. 32755, 12/04/2023. Política, p. 9
PT cobra dívidas de ministros, governadores e senadores
Sérgio Roxo
De volta ao governo após sete anos, o PT decidiu expor quem são seus integrantes com cargo público que estão em débito com a contribuição de parte do salário para a manutenção da sigla. Em reunião do diretório nacional na última segunda-feira, a legenda divulgou a lista de quem está inadimplente. Fazem parte do grupo dois ministros do governo Lula, dois governadores, quatro senadores e cerca de 30 deputados federais. Os valores das dívidas, porém, não foram informados.
Os ministros inadimplentes são Rui Costa (Casa Civil), como o GLOBO já havia revelado, e Camilo Santana (Educação). Já no grupo de governadores que precisam quitar débitos com a legenda estão Elmano de Freitas (Ceará) e Jerônimo Rodrigues (Bahia).
Na lista de senadores devedores estão Jaques Wagner (BA), líder do governo na Casa, Fabiano Contarato (ES), líder da bancada do partido, Rogério Carvalho (SE) e Augusta Brito (CE). Entre os cerca de 30 deputados com débitos, estão nomes de destaque como Washington Quaquá (RJ), um dos vicepresidentes nacionais do partido, e Reginaldo Lopes (MG), ex-líder da bancada e coordenador do grupo de trabalho da reforma tributária.
A relação foi lida pela tesoureira do partido, Gleide Andrade, para atender a um pedido formal feito na reunião de março pelo secretário de relações internacionais do PT, Romênio Pereira.
Rogério Carvalho contesta Gleide e diz que pagou R$ 300 mil ao partido durante a eleição do ano passado:
— Cabe a Gleide (tesoureira) dizer por que não contabilizou isso.
Gleide, por sua vez, disse que o dinheiro que Carvalho alega ter depositado não entrou na conta do PT.
— Por que ele não apresenta o comprovante de depósito? —questionou.
O senador argumentou que, em 2022, quando disputou o cargo de governador de Sergipe, a direção do partido repassou a ele R$ 300 mil a menos (R$ 1,2 milhão em vez de R$ 1,5 milhão) do que teria direito no fundo eleitoral para descontar a dívida com o partido.
Reginaldo Lopes, por sua vez, disse que os débitos estão em “fase de negociação”.
De acordo com o estatuto do PT, os filiados ao partido têm obrigação de contribuir com a legenda. Aos ocupantes de cargos públicos, sejam nomeados ou eleitos, são exigidas contribuições maiores a depender do valor do salário. Procurados, os outros citados como devedores pelo partido não responderam.
Os ministros de Estado, que têm salário bruto de R$ 39.293,32 (mais de 20 salários mínimos), devem doar 10% do rendimento líquido mensal para a legenda. Por ocuparem cargos eletivos, os deputados e senadores, que também ganham R$ 39.293,32, devem contribuir com 15%. O governador da Bahia, que recebe R$ 35 mil, é outro que deve doar 15% dos seus rendimentos. Já o governador do Ceará, com salário de R$ 19,5 mil (14 salários mínimos), precisa contribuir com 8%.
Na festa de aniversário do PT em fevereiro, em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou uma ficha para que a sua contribuição mensal ao partido, também no valor de 10% de seu rendimento líquido, fosse paga por meio de débito automático.