Título: Muito pouco a ser comemorado
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Fonte: Jornal do Brasil, 08/09/2005, País, p. A3

O Dia da Independência deste ano vai ficar marcado na memória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Começou com aplausos e vaias para o presidente no desfile cívico-militar do 7 de setembro em Brasília, ao qual compareceram 30 mil pessoas ¿ menos da metade que as 60 mil do ano passado. E terminou com um pronunciamento à nação ¿ o terceiro desde que começaram os escândalos ¿ recheado de retóricas. O presidente voltou a recorrer aos resultados positivos da economia para pedir à população que supere os desafios. Em cadeia de rádio e TV, ele disse que não admitirá ¿qualquer contemporização, qualquer acordo subalterno¿ para evitar punições aos políticos envolvidos em casos de corrupção. Mas ressalvou que ¿é preciso separar o joio do trigo¿. Mais uma vez, o presidente não foi claro em algumas insinuações durante sua fala. Não esclareceu por exemplo quais seriam os ¿interesses menores¿ que, ressaltou, estão manipulando a crise e ¿contaminando de modo abusivo e desnecessário a vida nacional¿.

O tom do pronunciamento ¿ o primeiro do presidente sem a orientação do publicitário Duda Mendonça e o oitavo desde que assumiu a Presidência ¿ foi contido e genérico. Frases fortes foram evitadas, e nenhum nome foi citado. A temática se concentrou entre os bons resultados da economia e a crise política ¿ sem menções às responsabilidades do PT nem de seu governo. Lula mandou recados aos ¿mal-intencionados¿:

¿ Faço questão de tranqüilizar as pessoas de bem e advertir aos mal-intencionados que as turbulências políticas não vão tirar o governo de seu rumo.

Intencionalmente ou não, a tese da separação do joio e do trigo combina com a estratégia de petistas e aliados acusados de corrupção, baseada na defesa de penas diferenciadas conforme a gravidade das irregularidades. Lula, que evitou ataques diretos à oposição, reprisou, com outras palavras, o discurso da ¿herança maldita¿ ao discorrer sobre os resultados econômicos.

¿ Quando eu assumi a Presidência, o Brasil estava mergulhado em uma profunda crise econômica e social. O quadro era assustador: a economia estagnada, o desemprego crescendo, a inflação disparando e a crise social prestes a explodir.

Trata-se de uma referência à turbulência financeira de 2002, que analistas e o próprio Banco Central na gestão de Lula já associaram à incerteza dos investidores com a perspectiva de vitória do petista nas eleições presidenciais. Naquele ano, o PIB cresceu apenas 1,9%, e a inflação chegou a 12,5%.

Favorecido pela boa conjuntura internacional, Lula agora aposta no desempenho da economia para recuperar a popularidade abalada pela crise.

¿ Desta vez, o crescimento é para todos, com geração de empregos e distribuição de renda ¿ disse Lula, conferindo um viés social à sua política econômica, similar a do governo Fernando Henrique Cardoso e alvo de críticas no PT e na esquerda em geral.

O pronunciamento de Lula foi orientado pelo publicitário Paulo de Tarso da Cunha Santos, responsável pelas campanhas de Lula em 1989 e 94.