O Estado de S. Paulo, n. 46649, 07/07/2021. Política, p. A8

Senadora sugere que houve falsificação em documento do governo

Julia Affonso


A senadora Simone Tebet (MDB-MS) afirmou ontem acreditar que houve falsificação no documento usado pelo governo Jair Bolsonaro para rebater denúncia de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin. À Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, Tebet identificou 24 erros na chamada "invoice" (uma fatura com os dados do pagamento) apresentada pelo ministro Onyx Lorenzoni, no dia 23 de junho, quando ameaçou processar os denunciantes.

Com uma imagem do documento, Tebet apontou erros de grafia, de inglês e falta de informações na nota fiscal que teria sido enviada pela Precisa Medicamentos ao Ministério da Saúde, para a compra da Covaxin, em março deste ano. "Tem clara comprovação de falsidade de documento privado. Nós estamos falando de falsidade ideológica formulada por alguém", disse a senadora.

Entre os erros apontados por Tebet estão marca e o logotipo da empresa desenquadrados – "como se fosse uma montagem"; erros de inglês, como "prince" (príncipe) no lugar de "price" (preço); "airpor" e não "airport" (aeroporto); mistura de português e inglês, o que a senadora chamou de "portinglês"; diferença no número de doses de vacinas de um campo para o outro; falta de dados bancários e assinaturas/autorizações, entre outros.

O documento foi divulgado pela primeira vez pelo servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, e seu irmão, o deputado Luis Miranda (DEMDF), como prova de irregularidade na compra da Covaxin. Na versão dos dois, a "invoice" previa pagamento antecipado de R$ 45 milhões por 3 milhões de doses, o que não estava previsto no contrato.

Pelo acordo, suspenso na semana passada após as denúncias, o pagamento só deveria ser feito após o Brasil receber a vacina, o que não ocorreu. Outro ponto levantado pelos irmãos é que a empresa destinatária do pagamento é a Madison Biotech, offshore sediada em Cingapura que não consta no contrato. Segundo a Precisa, a empresa é ligada ao laboratório indiano Bharat Biothec, fabricante da Covaxin.

Tebet questionou se a Madison teria produzido um documento "com tantos erros de inglês". Segundo ela, o erro mais grave, no entanto, foi no número de doses – diferente em dois campos da nota fiscal. "Ali eles colocam que são 300 mil caixas com 16 ampolas cada. Cada ampola dá para uma dose. Se multiplicar por isso, o que o Brasil teria que receber é 4,8 milhões de doses e não 3 milhões, como está aqui", afirmou. "É um documento que diz que ora o Brasil vai receber 4,8 milhões de doses da vacina, que ora vai receber 3 milhões de doses."

Procurados, Onyx e o Ministério da Saúde não se manifestaram até a conclusão desta edição.