Título: Mubarak se eterniza no poder
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Fonte: Jornal do Brasil, 08/09/2005, Internacional, p. A9

Irregularidades e baixo comparecimento às urnas marcaram ontem a primeira eleição presidencial multipartidária do Egito em 24 anos. Apesar da propaganda do governo, o pleito considerado histórico não animou os egípcios e fez com que poucos escolhessem entre 10 candidatos. No cargo desde 1981, Hosni Mubarak, deve ser anunciado no sábado novamente presidente.

A votação não registrou incidentes sérios, apesar de um protesto ter sido reprimido por policiais à paisana, que entraram em confronto com os manifestantes. O regime se esforçou para dar à ocasião uma fachada democrática, mas observadores de ONGs, que só tiveram permissão para monitorar a votação nas últimas horas de quarta-feira, denunciaram uma série de violações.

A Organização Egípcia pelos Direitos Humanos informou que ''delegados do Partido Nacional Democrata (PND, de Mubarak) ameaçaram os eleitores na província de Bani Sueif (Sul) de detê-los e suspender a ajuda social se não votarem no seu candidato''.

Na capital, filiados do PND, presidido por Mubarak, ofereceram dinheiro - o equivalente a US$ 9 - e comida para eleitores que depositassem a cédula marcada com a lua em quarto crescente, símbolo escolhido por Mubarak para facilitar o voto dos analfabetos.

Já a tinta, supostamente indelével, que era usada para marcar os dedos de quem já tinha votado, evitando que depositassem outra cédula em seção diferente, podia ser apagada com água e sabão, sem muito esforço.

Mohammed al-Nasr, da Campanha Nacional de Supervisão das Eleições, denunciou que ônibus públicos transportaram eleitores, que receberam a cédula de apoio a Mubarak. Segundo Al-Nasr, delegados do PND estavam sozinhos em algumas zonas eleitorais.

O partido de oposição Wafd denunciou que cerca de 500 pessoas votaram em seções diferentes das suas e, mesmo assim, não tiveram que apresentar título do eleitor, obrigatório nesse caso.

Para o diretor da Comissão Eleitoral, Osama Alawia, no entanto, a participação foi grande, mostrando ''o vigor das eleições, em que os egípcios puderam expressar livremente sua opinião''.

A mídia estatal foi acusada de divulgar números errados. Num mesmo colégio eleitoral, um juiz disse que apenas 4% dos eleitores haviam votado. Para o PND foram 80%.

Os liberais Ayman Nour, do partido Ghad, e Noman Gomaa, do Wafd, disputam o segundo lugar. Mubarak, de 77 anos, foi eleito quatro vezes num sistema de candidato único, indicado pelo Parlamento. O presidente mudou as eleições este ano por pressão dos EUA e de ativistas.