O Estado de S. Paulo, n. 46650, 08/07/2021. Internacional, p. A18

EUA devem anunciar nova doação de vacinas ao Brasil

Beatriz Bulla


O governo americano deve anunciar nos próximos 15 dias a doação de mais doses de vacina contra covid-19 ao Brasil, segundo fontes envolvidas nas negociações. A nova remessa deve ocorrer por meio de doação direta, sem mediação do consórcio internacional Covax Facility.

Ainda não se sabe quantas doses serão doadas. Há 15 dias, os EUA anunciaram a doação de 3 milhões de doses da vacina da Janssen, do grupo Johnson & Johnson, ao Brasil. As doses chegaram ao País na mesma semana.

O transporte foi feito em avião comercial da Azul Linhas Aéreas. Ainda não está acertado se as novas doses serão da mesma farmacêutica ou da Pfizer. A vacina da Janssen é de dose única, enquanto a da Pfizer exige duas doses para imunização.

Desde março, o governo brasileiro vem negociando com os EUA para a doação de vacinas. As tratativas são feitas pela Embaixada do Brasil em Washington, juntamente com o Ministério da Saúde e com a cúpula do Itamaraty em Brasília, diretamente com a Casa Branca.

O porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, não confirmou o envio de doses ao Brasil ao ser questionado sobre o assunto em entrevista coletiva, mas afirmou que os EUA planejam anunciar novas doações nos meses de verão no Hemisfério Norte (julho e agosto) e disse que o Brasil é um parceiro importante dos EUA.

O governo Biden anunciou a doação de ao menos 80 milhões de doses de vacina contra covid19 para outros países após pedidos e pressão da comunidade internacional para que os EUA ajudem no combate à pandemia no plano mundial. Os EUA têm doses de vacina suficientes para vacinar três vezes a população do país. Mais da metade (55%) dos residentes nos EUA já recebeu ao menos uma dose.

Nos primeiros anúncios, a Casa Branca informou que doaria 75% das doses excedentes por meio do Covax e os outros 25% de maneira direta. Desde que as remessas começaram a ser feitas, os americanos têm identificado que a negociação bilateral é mais ágil do que a feita pelo consórcio internacional.

A nova remessa ao Brasil ainda não foi anunciada pela Casa Branca formalmente, mas já é considerada certa entre os responsáveis pela negociação e faz parte da ofensiva do governo americano para se contrapor à China na chamada diplomacia da vacina. Os EUA garantem que não pedem contrapartidas pelas doses. Nesta semana, por exemplo, os americanos enviarão 1,5 milhão de doses para a Guatemala, 1 milhão para a Bolívia e 1 milhão para o Paraguai.A doação ao Brasil será feita ainda nos EUA e cabe ao governo brasileiro cuidar da parte operacional para a retirada das vacinas. A ideia é usar um avião da Azul, se a empresa disponibilizar novamente o transporte, para trazer as doses ao País. Caso contrário, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) deve fazer o transporte.

Há também uma discussão sobre as doses de vacinas dos EUA que vencerão em setembro. Segundo fontes, o Covax não conseguirá distribuir 20 milhões de doses com vencimento próximo. Por isso, os americanos estudam o compartilhamento direto bilateral, o que alimenta a esperança de que mais doses sejam enviadas ao País no segundo semestre.

Carta. No domingo, 4 de julho, o presidente Jair Bolsonaro enviou uma carta ao presidente americano, Joe Biden, para cumprimentá-lo pelo dia da independência americana. No texto, Bolsonaro agradeceu pelo envio das vacinas.

Essa foi a quarta carta de Bolsonaro a Biden, desde que o democrata tomou posse em 20 de janeiro. Até agora, os dois presidentes não conversaram por telefone, apesar das frequentes reuniões entre o alto escalão dos dois governos.

Ajuda

3 milhões

de doses o Brasil recebeu recentemente dos EUA, que prometeram doar ao menos 80 milhões de vacinas para outros países diretamente ou pelo Covax