O Estado de S. Paulo, n. 46648, 06/07/2021. Internacional, p. A7

Governo britânico diz que é “hora de conviver com vírus” e prevê reabertura



Durante o longo período de pandemia da covid-19, o primeiro-ministro Boris Johnson e o governo britânico adoraram lançar slogans engenhosos. O mais recente é "Mãos, Rosto, Espaço". Agora, a ênfase está claramente mudando das regras estabelecidas pelo governo para a responsabilidade dos indivíduos. O governo admite que, com a reabertura, deve ocorrer um aumento de casos e de mortes, mas acha que é o momento de a população aprender a conviver com o vírus, que "não pode ser totalmente eliminado".

O premiê anunciou ontem que, se tudo avançar como o previsto, no dia 19 serão retiradas as restrições contra a covid-19 restantes na Inglaterra, de modo que o uso de máscara e o distanciamento social passarão a ser opcionais. Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte têm autonomia sobre as questões sanitárias e decidem seus ritmos de desconfinamento.

Em entrevista, Johnson detalhou que, se na segunda-feira forem confirmados dados epidemiológicos favoráveis, na semana seguinte serão eliminadas as "limitações legais", permitindo a reabertura dos setores ainda fechados da economia, como grandes eventos e lazer noturno.

Também não haverá limite de capacidade em teatros e cinemas ou para que as pessoas se reúnam em locais fechados e ao ar livre. A continuidade do trabalho remoto ficará a critério das empresas.

O anúncio era aguardado com expectativa e apreensão por causa de um aumento de infecções no país. O número de casos cresce, dobrando a cada oito dias, principalmente pelo avanço da variante Delta – detectada inicialmente na Índia. A nova cepa agora é dominante no Reino Unido e os cientistas estimam que pode ser 40% a 60% mais transmissível do que a variante Alfa – detectada no território britânico –, que antes era a predominante.

Apesar de o cenário atual ser preocupante, ministros têm repetido, nos últimos dias, a linha de que o público deve agora "aprender a viver com o vírus". Nos últimos 16 meses, o Reino Unido enfrentou três lockdowns, registrou 128 mil mortes e 4,9 milhões de casos de covid-19.

Os ministros admitem que as infecções provavelmente aumentarão quando as regras forem flexibilizadas, mas o governo espera que o número de hospitalizações e mortes seja limitado pela campanha de vacinação em andamento, uma das mais bem-sucedidas do mundo. O Reino Unido foi o primeiro a vacinar sua população – em 8 de dezembro – e, desde então, cerca de 45 milhões de pessoas receberam a primeira dose da vacina – aproximadamente 85% da população adulta – e outros 33 milhões receberam a segunda.

Johnson também afirmou que trabalha com o setor turístico e as companhias aéreas para tentar eliminar a obrigatoriedade da quarentena para os viajantes vacinados que voltarem ao Reino Unido de determinados países.

O ministro da Educação, Gavin Williamson, detalhará hoje as novas regras a serem aplicadas nas escolas, que possivelmente eliminarão a exigência para que os estudantes cumpram dez dias de isolamento se tiverem mantido contato com um colega que tenha testado positivo para a covid.

Johnson reconheceu que, à medida que as restrições são flexibilizadas, os contágios devem aumentar, impulsionados pela cepa Delta, mas argumentou que o verão (no Hemisfério Norte), com as escolas fechadas, é o melhor momento para aprender a conviver com a doença.

"Se não abrirmos agora, então quando?", questionou, ao dizer que o governo tomou uma decisão "ponderada e equilibrada" de acabar com o confinamento imposto em janeiro, por causa do "sucesso" do programa de vacinação.

Um dos pontos mais polêmicos da atual decisão é sobre a não obrigatoriedade do uso de máscara e a suspensão das medidas de distanciamento social, embora ainda sejam recomendados. Para evitar um agravamento da pandemia, especialistas em saúde pedem às autoridades que mantenham pelo menos algumas regras, incluindo essas duas. "Não é uma decisão binária de tudo ou nada", disse Chaand Nagpaul, presidente do Conselho da Associação Médica Britânica, acrescentando que tais medidas reduziriam o impacto do aumento das infecções.

A pesquisadora da University College London e membro do comitê Sage de conselheiros científicos do governo, Susan Michie, tuitou: "Permitir que a transmissão comunitária aumente é como construir novas 'fábricas de variantes' em um ritmo muito rápido".

O novo secretário de Saúde, Sajid Javid, está entusiasmado para abrir o país totalmente. Ele reconheceu que pessoas ficarão doentes e algumas morrerão, mas disse que a pandemia está sob controle e é hora de seguir em frente. "Nenhuma data vem com risco zero para o coronavírus. Não podemos eliminá-lo; em vez disso, temos de aprender a conviver com ele."/ EFE, WP e NYT

Defesa

"Nenhuma data que escolhermos vem com risco zero para a covid. Não podemos eliminá-lo; em vez disso, temos de aprender a conviver com isso"

Sajid Javid

Secretário de Saúde