Título: Brasil vira pólo de tecnologia
Autor: Léa De Luca
Fonte: Jornal do Brasil, 08/09/2005, Economia & Negócios, p. A17

O HSBC vai construir no Brasil seu terceiro centro internacional de tecnologia da informação, para desenvolvimento dos principais softwares e sistemas usados pela instituição. A informação foi dada por John Bond, presidente do grupo britânico, o terceiro maior conglomerado bancário do mundo. - Depois de pronto, o empreendimento vai empregar 2 mil novos funcionários. Aqui estão alguns dos melhores talentos nesta área em todo o mundo.

Os outros dois centros estão na China e na Índia. Durante a entrevista concedida na sede do banco em São Paulo, Bond não se limitou a elogiar o talento dos brasileiros: a melhora dos indicadores da economia, o presidente Lula e até os concorrentes foram lembrados.

- A economia brasileira está na sua melhor forma das últimas décadas - disse.

Bond fez questão de não comentar política, mas afirmou que a atual crise não afetou o interesse do banco no Brasil.

- O que levamos em conta são os fundamentos, como o superávit comercial, a inflação sob controle e o câmbio flutuante, todos positivos.

Sobre o presidente Lula, que finalmente conheceu pessoalmente nesta sua terceira viagem ao Brasil, Bond disse ser um homem fascinante.

- Adorei conhecê-lo.

O executivo também listou Bradesco, Itaú e Unibanco co-mo alguns dos bancos mais bem-administrados do mundo.

Apesar de tantos elogios, o Brasil hoje representa pouco mais de 1,7% dos ganhos do grupo (US$ 10,6 bilhões, antes de impostos, em junho último).

- Mas esse percentual vai crescer - afirmou, sem especificar um horizonte.

Quando questionado sobre a possibilidade de voltar a ir às compras, Bond disse que a estratégia de crescimento do banco não pode depender de ofertas disponíveis.

- Nossa primeira escolha é crescer organicamente, mas ficaríamos felizes se aparecesse outra oportunidade certa para investir mais capital no Brasil.

O local exato para o centro tecnológico ainda não foi escolhido, mas a sede brasileira do banco fica em Curitiba. Bond não soube dizer também quando estará pronto, limitando-se a dizer que será ''o mais rápido possível''. Nem revelou quanto será investido no centro. Por ano, o HSBC gasta US$ 3,8 bilhões em tecnologia, ferramenta fundamental para um banco que pretende ser cada vez mais global - com raízes na China, tem sede em Londres e presença em outros 75 países.

No entanto, segundo Bond, ainda há o que aprender nesse departamento. No seu primeiro dia em São Paulo, passeando pelo tradicional Mercado Municipal da cidade, o executivo notou clientes usando as máquinas de auto-atendimento do banco. Na Europa, essas máquinas permitem apenas saques e extratos - no Brasil, também se pode fazer empréstimos e transferências, por exemplo. Segundo Bond, a ampliação do uso das ATMs é uma das coisas aprendidas com a Losango, financeira comprada pelo HSBC em 2003.

- Não é surpreendente que uma empresa de crédito ao consumo brasileira seja tão sofisticada, a nível internacional? - questiona.

Segundo ele, a Losango é um tremendo sucesso para o grupo, um das vias por onde o banco planeja crescer organicamente.

A visita de John ao Brasil foi rápida - encontrou-se por com o presidente Lula na segunda-feira em uma sala vip do Aeroporto de Congonhas, quando também conheceu o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Em seguida, voou para Brasília, onde conversou com o ministro Antonio Palocci, da Fazenda, e com Henrique Meirelles, presidente do Banco Central. Na terça, almoçou com 15 clientes. E à noite voou para os Estados Unidos.

A primeira vez que Bond, 64 anos, veio ao país foi em 1998, já indicado para chairman, cargo que assumiria no mesmo ano; a segunda foi em 2000, para uma reunião mundial do board do grupo, que aconteceu aqui.