Título: A conta da crise política
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 04/09/2005, Economia & Negócios, p. A17
Se a economia caminha com as próprias pernas rumo ao crescimento neste ano, em um horizonte mais longo, os efeitos da crise política ajudam a minar a expansão do país. Neste ano, apesar da comemoração do governo, o Brasil registra um dos piores resultados entre os emergentes. China, Índia, Rússia - os demais Bric's (prováveis potências daqui a 30 anos, além do Brasil) - registram expansão de 9,5%, 7% e 5,2%, respectivamente. O resultado brasileiro ficou nos 3,9% no primeiro semestre. A paralisação da agenda de reformas, além do já conhecido baixo nível de poupança e investimentos, fará com que o país estacione, na melhor das hipóteses, nos 3% nos próximos anos. Segundo estimativa da Consultoria Tendências, se o cenário negativo for confirmado, será desperdiçado um esforço de expansão de cerca de 1 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB). Ou seja, em vez de crescer até 4% ao ano, o país não passará dos 3%. E não se trata apenas de uma questão numérica. Segundo estudos do economista da Unicamp, Cláudio Dedecca, para incluir a população que chega ao mercado de trabalho e também os desempregados, seria necessário que o país mantivesse uma taxa de crescimento de 7% ao ano por cerca de uma década.
Os fatos que explicam ser o Brasil um dos lanterninhas entre os emergentes em termos de expansão são conhecidos e o mais contundente deles é o baixo investimento. Se a produção não cresce, cabe ao Banco Central esfriar o consumo em excesso (a inflação) com um remédio conhecido: juros altos. E o círculo vicioso se fecha.
- O efeito silencioso da crise política é a postergação dos investimentos. O Brasil, que finalmente reencontra uma expansão, está sendo condenado ao baixo crescimento quando comparado com outros emergentes de peso. São os efeitos nefastos da crise - avalia Roberto Padovani, sócio da Tendências.
Embora o resultado do segundo trimestre mostre avanço de 4,5% nos investimentos frente os primeiros três meses do ano, o esboço de reação não dá conta das necessidades de expansão em larga escala. Enquanto o Brasil tem uma taxa de investimento de cerca de 20% do PIB, a China exibe incríveis 47%.
- O efeito de recuperação no trimestre era esperado depois de duas quedas consecutivas. O investimento voltou agora, mas ainda não no mesmo nível de antes (segundo trimestre do ano passado). Além disso, os rumores da crise política ainda estavam começando em junho - opina o estrategista-chefe do BNP Paribas no Brasil, Alexandre Lintz. - A boa notícia é que o câmbio valorizado (dólar fraco) vem contribuindo para que haja compra de máquinas importadas. Mas isso não é sustentável a longo prazo. É difícil acreditar que a vantagem vai se manter por muito tempo.
Segundo Padovani, o principal motivo para o crescimento seguir amarrado é o atraso na agenda de reformas institucionais, como a tributária e a independência do Banco Central, e regulatórias, incluindo as regras para fazer deslanchar as Parcerias Público Privadas (PPPs), carro-chefe das propostas do governo para a retomada de grandes obras de infra-estrutura. A menos de três meses para o fim de 2005, as negociações avançam a passos lentos e, segundo estimativa do vice-presidente executivo da Associação Brasileira de Desenvolvimento da Indústria de Base (Abdib), Ralph Terra Lima, os primeiros editais só ficarão prontos no ano que vem.