Correio Braziliense, n. 21536, 04/03/2022. Mundo, p. 4

Brasileiros querem lutar

Taísa Medeiros


Na contramão das milhares de pessoas que buscam uma saída para fugir dos conflitos na Ucrânia — pelo menos 1 milhão já deixaram o país, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) —, mais de 100 brasileiros pediram à Embaixada da Ucrânia para irem para o front de batalha. O dado foi informado pelo encarregado de Negócios da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach. Sem dar a quantidade exata de candidaturas e garantir se alguém será escolhido, o diplomata adiantou que não será possível atender ao número de demandas. "São mais de 100 cartas. Não podemos responder a todas", justificou.

Segundo o diplomata, só é possível realizar o alistamento em solo ucraniano. Além disso, é preciso ter experiência militar e falar pelo menos inglês fluentemente. Quando questionado se existe uma idade mínima para fazer o alistamento, Tkach se limitou a responder que "com 18 anos a pessoa ainda não tem experiência".

Dezenas de grupos nas redes sociais, principalmente Facebook, WhatsApp e Telegram, reúnem majoritariamente homens jovens em busca de informações para se alistarem. Em um desses, está Evandro Lins, 34 anos, natural de Vila Velha, no Espírito Santo. Evandro garante que tem treinamento esportivo, conhecimento em armas e que está disposto a ir para o outro lado do mundo se juntar aos soldados ucranianos.

"O que me motiva é ver aqueles heróis que já estão lá, que foram obrigados a se separarem das mulheres e dos filhos para defender a sua pátria", contou. "Se for convocado, eu vou sem pensar duas vezes. É muito injusto o que está acontecendo na Ucrânia", completa Evandro, que assegurou que suas motivações são maiores do que qualquer medo que poderia sentir no campo de batalha. "Minha motivação fala mais alto", justificou.

Unidade estrangeira

As informações para o alistamento foram intensificadas logo após o início do ataque a Kiev, no último dia 24. Três dias depois, o presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, anunciou a criação da Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia — uma unidade militar formada por estrangeiros dispostos a combater os russos. Pelo Twitter, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, reiterou o convite.

Foi quando o técnico em logística Aron Marques, 30 anos, teve o interesse despertado pela causa. "Outros brasileiros também se interessaram pelo assunto. Na verdade, pessoas do mundo inteiro abraçaram a causa ucraniana. Eu tenho muita vontade de lutar pela Ucrânia. É uma luta pela defesa da vida, pelo direito de ir e vir, uma luta em defesa dos valores ocidentais ante o expansionismo russo, que tenta, de forma arbitrária, reconstruir a antiga união soviética", diz.

Para participar do combate, o voluntário tem que arcar com as despesas por conta própria. "A única forma de entrar em território ucraniano é atravessando pela Polônia, e o custo financeiro de uma viagem como essa é bem alto", afirma Aron Marques. Apesar da dificuldade, o plano dele ainda está de pé. "Sigo acompanhando o andamento do conflito e me preparando financeiramente", ressalta.