Título: Canteiro central para o exião
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 04/09/2005, Brasília, p. D1

Uma discussão que parecia morta há quase dez anos, promete voltar à pauta nas próximas semanas. Pelo menos no que depender da deputada Ivelise Longhi (PMDB). A fim de diminuir o número de atropelamentos fatais no Eixão, a ex-secretária de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) pretende levantar um debate com a população - apagado desde a promulgação da lei distrital 1.755/97 - sobre a transformação da faixa central da via em um canteiro de plantas. O objetivo é determinar, ao longo dos 14 quilômetros, pontos específicos que permitiriam o fluxo de pedestres, - Quero abrir a discussão pois não dá para ficar omissa diante da maratona das pessoas para atravessar a pista, além da insegurança dos próprios motoristas - explica Ivelise.

De acordo com o Detran, no ano passado nove pessoas perderam a vida sobre o asfalto do Eixo Rodoviário, a DF-002. Até maio deste ano, dos 60 atropelamentos fatais registrados em todo o DF, três aconteceram ali na via.

Na verdade a idéia, além de muito polêmica, não é nova. De acordo com o presidente do Conselho Comunitário da Asa Sul, Ricardo Pires, a discussão começou ainda em 1985, quando ele procurou o GDF para sugerir a proposta e encontrar um meio de colocá-la em prática. À época, lembra Ricardo, descartou-se a hipótese de acabar com a passagem central pois ela deveria sempre estar disponível como ''faixa presidencial'', para livre passagem do comboio do chefe da República caso fosse necessário. Depois, a via seria ponto para desfiles militar e de carnaval.

- Tanto a Seduh quanto o Iphan diziam que acabaria com a 'monumentalidade' do Eixão. Mas arquitetos não andam a pé pela cidade. Para passar pelas passarelas, o pedestre tem quer dar voltas de 150, 200 metros. Além disso, as pessoas não gostam de andar por baixo do chão, não são tatus - critica Pires.

Um dos grandes entusiastas do canteiro central, há duas semanas Ricardo Pires enviou ofício para a titular da Seduh, Diana Meireles, com algumas reivindicações da comunidade, dentre elas o canteiro central e ampliação do número de passarelas subterrâneas. Atualmente são oito no lado sul, oito no norte, mais a Galeria dos Estados, em frente ao Setor Comercial Sul.

O que poucos sabem é que o fim da faixa central do Eixão está instituído pela lei distrital 1755/97 de autoria do então deputado distrital Luiz Estêvão. A lei foi promulgada - veto do Executivo derrubado no plenário da Câmara Legislativa - mas nunca foi regulamentada. De acordo com o texto do projeto, as faixas centrais dos eixos norte e sul seriam transformadas em ''ilha para refúgio'' de pedestres. A colocação de placas verticais sobre o canteiro seria vetada.

Patrimônio - A proposta, no entanto, não agrada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O superintendente regional do órgão, Alfredo Gastal, afirma que criar o canteiro central como medida de segurança é algo ''absolutamente sem sentido''.

- É claro que a alternativa pode até ser discutida, mas as pessoas continuarão correndo por ali. Essa hipótese nunca foi considerada pelo próprio Lúcio Costa. A cidade ainda está se ajeitando para já se pensar em uma plástica - defende Gastal, ressaltando que Brasília é tombada pelo patrimônio e, por isso, uma área bastante sensível para ser modificada.