O Estado de S. Paulo, n. 46651, 09/07/2021. Metrópole, p. A12

Genética influi na gravidade da covid



Uma equipe global de cientistas identificou 13 zonas do genoma humano que podem estar associadas ao risco de infecção pelo coronavírus e à gravidade em certos pacientes, segundo estudo publicado ontem na revista Nature. Alguns desses genes já têm relações conhecidas com o câncer de pulmão e outras doenças autoimunes, além de poderem influenciar na resposta do organismo humano à infecção pela covid.

Cerca de 3.300 pesquisadores participaram do projeto Covid-19 Host Genetics Initiative (Covid-HGI), rede global que reúne dados de 61 estudos de 25 países, analisando mais de 50 mil pacientes e outros 2 milhões de não infectados para controle. A ideia foi sugerida pelo pesquisador Andrea Ganna, do Instituto de Medicina Molecular da Finlândia.

O objetivo era determinar por que algumas pessoas infectadas com covid evoluem para quadros graves enquanto outras têm apenas sintomas leves. Os resultados apresentados apontam para a influência da genética na evolução da doença.

Os pesquisadores já sabiam que alguns fatores de risco, como idade, estado de saúde e condições socioeconômicas, poderiam influenciar na gravidade da covid, mas sozinhos eles não explicam a variação dessa gravidade. Entre os que responderem à chamada de Ganna estava o espanhol Israel Fernandéz Cadenas, do Instituto de Pesquisa do Hospital de la Santa Creu e Sant Pau-II, em Barcelona. Cientistas, biobancos, hospitais e empresas privadas compartilharam “dados e conhecimento de forma absolutamente transparente”, o que permitiu “obter rapidamente um retrato da genética dos hospedeiros da covid19”, explicou Fernández.

“Esta iniciativa e o esforço conjunto vão facilitar e impulsionar muitos outros projetos de investigação relacionados a diferentes patologias ou doenças infecciosas”, diz ele. Este acesso a uma grande quantidade de dados, até aqui sem precedentes, permite aos pesquisadores criar análises estatísticas muito mais rapidamente e a partir de uma população mais diversa.

Tabagismo. Graças a esse estudo, os pesquisadores também identificaram fatores de risco causais como o tabagismo e o alto índice de massa corporal. Entretanto a grande novidade, ressalta Ganna, é que “a genética, claramente, desempenha um papel significativo na evolução da covid". “É um fator agravante, muito útil para detectarmos riscos como pode ser a diabete de tipo 2. Ao combinar todos os fatores disponíveis, podemos melhorar as previsões sobre suscetibilidade e gravidade da covid”, acrescenta.

As vacinas também conferem proteção contra a infecção e a doença, mas isso abre uma margem substancial para melhorar os tratamentos, ressalta Ben Neale, coautor do estudo e codiretor do Programa de Genética Médica e de Populações no Instituto Broad. Contar com opções de tratamento, ele argumenta, poderia ajudar a converter a pandemia em uma doença endêmica, mais localizada e presente em uma menor escala entre a população, como já acontece com a gripe.