Título: Câmara tem péssimo conceito entre os eleitores
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Fonte: Jornal do Brasil, 04/09/2005, Brasília, p. D3

Preocupada com a própria imagem, a Câmara Legislativa resolveu, em abril deste ano, levantar uma pesquisas para saber como a população do DF enxerga os trabalhos dos 24 distritais. O resultado da sondagem - que não foi divulgado à imprensa - mostrou uma Casa impopular, cuja honestidade é desacreditada pelos eleitores que, por sua vez, pouco conhecem o que acontece por lá. De acordo com o chefe da comunicação da Câmara Legislativa, Paulo Pestana, o objetivo era avaliar a imagem da Casa um ano após dois episódios marcantes em sua história: a cassação do primeiro mandato parlamentar (de Carlos Xavier, em agosto do ano passado) e as denúncias de envolvimento do então presidente, deputado Benício Tavares (PMDB), com menores prostitutas na Amazônia (em setembro).

- A Câmara virou notícia nacional na época, era importante saber a percepção das pessoas atualmente, o desempenho dos parlamentares - explicou Pestana.

Por meio da agência de publicidade SMP&B - empresa do mineiro Marcos Valério, acusado de ser operador do mensalão no Congresso Nacional, que presta serviços para o Legislativo local - a Câmara encomendou a sondagem, realizada nos dias 6 e 7 de junho deste ano. Por meio de uma seleção feita pela própria SMP&B, foi contratado o Instituto Soma-Opinião e Mercado. A pesquisa realizou 824 questionários em todo o DF, e custou R$ 76 mil.

Além da SMP&B, presta serviço de publicidade à Casa a agência Futura. Este ano, a filial de Marcos Valério - que também atende conta do GDF - recebeu R$ 479 mil relativos a notas a pagar de 2004 e R$ 232,7 mil sobre contas deste ano. A Futura recebeu R$ 929 mil de restante a pagar e R$ 1,1 milhão de serviços prestados este ano.

Segundo Paulo Pestana, a Casa só pode contratar empresas para pesquisas de opinião via empresas de publicidade e, neste caso, não houve critérios específicos para designar a SMP&B. Ele explica que foram procuradas, além da Soma, outras duas empresas, mas não soube dizer quais foram as outras duas - que teriam apresentado preços superiores ao contratado.

A pesquisa de opinião constitui-se em três partes: uma chamada pesquisa quantitativa, que corresponde ao tradicional perguntas-respostas objetivas; uma pesquisa qualitativa, pela qual grupos de debates com cerca de 10 pessoas que, observadas em uma sala especial, discutem assuntos políticos; e uma terceira sondagem, entrevistas em profundidade, feitas com formadores de opinião como jornalistas, publicitários, líderes de segmentos e empresários. Segundo Tuti Osório, ex-consultora da Soma que coordenou os trabalhos, as partes ''qualitativas'' são importantes - e geralmente, as mais caras - para aprofundar a análises.

Pestana afirma que a intenção era fazer uma divulgação apenas interna dos números, para que cada parlamentar pudesse avaliar o seu desempenho e o da Câmara. Após a conclusão da pesquisa, assessores e chefes de gabinete participaram de uma palestra para ter acesso aos resultados.

- Percebemos que as pessoas têm vergonha de não se lembrar em quem votaram nas últimas eleições e que não sabem o que os deputados fazem. Quanto mais alta a classe social, maior a vergonha - avalia o chefe da comunicação, que chegou a acompanhar de perto algumas abordagens feitas.