Título: Delúbio e Valério eram íntimos do Planalto
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 07/09/2005, País, p. A2

O primeiro relatório parcial da quebra do sigilo telefônico da CPI dos Correios, em poder do Ministério Público e da Polícia Federal, atribui ao ex-tesoureiro nacional do PT, Delúbio Soares, 121 ligações para órgãos da Presidência. Pelo menos uma delas foi para o principal ramal do gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ramais da Presidência da República também foram acionados 126 vezes pelas empresas do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza no período em que a DNA e a SMPB disputavam a renovação e um novo contrato com estatais entre agosto e dezembro de 2003.

A CPI rastreia 1,5 milhão de chamadas dos principais personagens do escândalo do mensalão e de apenas parte (6) das 40 operadoras de telefonia. Até agora, só cruzou dados dos telefones fixos do Palácio do Planalto e outros órgãos públicos, e não os celulares das autoridades e demais investigados.

O telefone celular era um meio importante de contato para os pagamentos de políticos. Em depoimento ontem à Polícia Federal, em Brasília, Marcos Valério disse que tinha o costume de trocar o número de seu celular.

- Delúbio Soares também trocava muito o número de seu telefone -, contou Valério.

Essa providência dificulta as investigações. A ligação telefônica do ex-tesoureiro petista para o ramal do presidente da República ocorreu em 19 de outubro de 2004, informa o relatório. Os contatos mais freqüentes de Delúbio Soares eram com o gabinete do ex-ministro José Dirceu. As ligações para os ramais da Casa Civil são a maioria entre as 121 chamadas registradas entre o telefone fixo do ex-tesoureiro e os ramais do Planalto, sendo 37 delas para o ramal de José Dirceu.

O relatório parcial dos telefonemas registra também contatos de Delúbio com o ramal do ex-assessor palaciano Waldomiro Diniz, menos de dois meses antes do seu afastamento do cargo, por envolvimento em pagamento de propina. As chamadas do ex-tesoureiro são mais freqüentes no período anterior às eleições municipais.

O primeiro relatório parcial do rastreamento de telefonemas identificou 292 ligações de Valério para órgãos da Presidência entre 2000 e 2005. A maior parte das chamadas (268) ocorreu na gestão de Lula e teve como destino a Secom (ex-Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica).

A assessoria de comunicação da DNA Propaganda informou que as chamadas se devem à discussão sobre campanhas publicitárias que a empresa mantém com o Banco do Brasil, a Eletronorte e o Ministério do Trabalho.

A Secom sempre negou que tenha interferido nos contratos, alegando que a tarefa compete aos órgãos contratantes.

A análise do período sob investigação (2000 a 2005) revela que as chamadas feitas desde a DNA e SMPB não obedecem à lógica de um relacionamento regular comercial. Ao longo dos seis primeiros meses de 2005, por exemplo, não houve nenhuma ligação para a Presidência.

Em 2004, foram registradas apenas 63 chamadas, e nenhuma no mês de dezembro. Em contrapartida, ocorreram 205 no ano anterior, sendo 129 no período (de agosto a dezembro) em que a SMPB disputava um contrato nos Correios, de R$ 23 milhões, em 2004, e fechava um novo contrato com o Banco do Brasil, de R$ 111 milhões, também em 2004.

Os dois contratos foram usados posteriormente como garantias para empréstimos que Valério tomou nos bancos BMG e Rural e que supostamente teriam alimentado o caixa dois do PT.

O ritmo de ligações, que atingiu o auge no segundo semestre de 2003, caiu bastante em 2004. A partir de maio, as ligações se resumiram a uma média mensal de três telefonemas. Só em dezembro de 2003 haviam sido 30. Em agosto daquele ano, 33.