Título: Valério complica ainda mais Dirceu, Duda e Delúbio
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 07/09/2005, País, p. A4

Marcos Valério Fernandes de Souza - acusado de ser operador do mensalão - agravou ainda mais a situação do marqueteiro do PT, Duda Mendonça, e do ex-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu. Em depoimento na Polícia Federal, segunda-feira, Valério atribuiu à sócia de Duda, Zilmar Fernandes, a não contabilização do dinheiro repassado ao publicitário.

Valério diz ainda que recebeu um pedido do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, para substituir o nome de Roberto Marques - apontado como assessor de Dirceu - como responsável pelo recebimento dos cheques.

Valério foi à Polícia Federal levar comprovantes de pagamentos e transferências bancárias para os delegados que investigam o mensalão. Uma das dúvidas dos delegados é a procedência dos recursos da conta Dusseldorf, nas Bahamas, que pertence a Duda Mendonça. Nesta conta, foram depositados R$ 10 milhões para pagamento da campanha do PT em 2002. Duda havia dito à PF que Zilmar foi procurada por Valério para a abertura de conta no exterior como condição do recebimento.

- Zilmar disse que não poderia contabilizar os recebimentos - devolveu Valério.

Após sair da sede da PF em Brasília, às 23h de segunda-feira, Valério afirmou que os R$ 15,5 milhões que repassou a Duda Mendonça foram entregues no Brasil.

- Não fui eu quem fiz os depósitos na conta do Duda. Passei o dinheiro para ele no Brasil - rebateu Valério.

No depoimento à PF, ele confirmou ter repassado dinheiro a Roberto Marques, apontado como assessor de José Dirceu, por indicação do ex-tesoureiro Delúbio Soares. Posteriormente, diz Valério, o próprio Delúbio indicou que o nome de Roberto Marques fosse substituído por Luiz Carlos Manzano, ligado à corretora Bônus Banval, como responsável pelo recebimento ''de um dos cheques''.

Valério contou mais detalhes sobre o esquema de pagamento aos partidos. Ele diz que entrava em contato com o tesoureiro do PL, Jacinto Lamas, e informava sobre a disponibilização do recurso. O empresário revelou ainda que os R$ 3,7 milhões destinados ao deputado Vadão Gomes (PP-SP) foram entregues pessoalmente em um hotel de São Paulo.

O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, subordinado ao Ministério da Justiça, pedirá a autoridades do governo norte-americano o rastreamento das contas bancárias que estão em nome de Duda Mendonça e de sua sócia Zilmar.

O objetivo é investigar se Duda usou a conta para receber outros pagamentos além dos R$ 10,5 milhões de Valério. Valério disse ainda à PF que ''ficou sabendo que Duda Mendonça estava remetendo recursos ao exterior'' por intermédio do doleiro Jader Kalid Antonio.

Segundo Valério, o envio foi comprovado nos fac-símiles pedidos a Kalid com as entregas a Duda.