O Estado de São Paulo, n. 46669, 27/07/2021. Metrópole p.A16

 

Ministério reduz janela entre doses da Pfizer


Estratégia mira contenção da variante Delta; intervalo passa de 90 para 21 dias

Sofia Aguiar 

Lauriberto Pompeu

 

O secretário executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, disse ontem que o intervalo entre a aplicação da 1ª e a 2ª dose da vacina da Pfizer vai ser reduzido para 21 dias. Hoje, após ser imunizado com a 1ª dose, é preciso esperar três meses para a outra aplicação. Não foi informado quando a mudança vai ser posta em prática. "Precisa ver qual é o melhor timing disso, mas que vai diminuir, vai", afirmou Cruz. A contenção da variante Delta é um dos objetivos da estratégia.

A bula do imunizante da farmacêutica americana já recomenda os 21 dias. O governo brasileiro optou por estender o prazo para que o maior número possível de pessoas recebesse a 1ª dose – com base em medida tomada pelo Reino Unido.

Conforme documento do Ministério da Saúde, de maio, a efetividade estimada da Pfizer após uma dose era de pelo menos 80%. Já a recomendação dos Estados Unidos na mesma época era de usar intervalo de, no máximo, seis semanas entre as aplicações, por falta de evidências científicas mais robustas sobre as vantagens de uma janela maior.

Apesar de dar como certa a redução do intervalo, Cruz afirmou que vai aguardar para saber quantas doses o Brasil receberá da vacina da Pfizer em agosto. "Vamos conversar com o laboratório para ver qual o cenário do próximo mês de entrega das doses. Além da questão da epidemia, precisamos verificar o cenário de abastecimento."

"A gente está só vendo com Conass (Conselho de Secretários Estaduais de Saúde) e Conasems (Conselho de Secretários Municipais de Saúde), na tripartite, para gente ver qual é a melhor data para diminuir o prazo de 3 meses para 21 dias. Então, encurtando o prazo ficando o mínimo pontuado pela Pfizer", afirmou o secretário executivo.

A decisão de reduzir o intervalo entre as doses da vacina tem como objetivo conter o avanço da variante indiana Delta, mais transmissível. A nova cepa do coronavírus tem provocado alta de infecções na Europa e nos Estados Unidos e desencadeado recuos nas medidas de flexibilização à abertura da economia e do uso de máscaras.

De acordo com estudo francês publicado este mês na revista científica Nature, uma dose do imunizante não é suficiente para garantir a proteção contra essa nova cepa. Duas injeções, entretanto, têm eficácia.

"A gente precisa verificar o cenário de abastecimento, porque a Câmara Técnica já sinalizou que é interessante avançar a imunização em 1ª dose e, só então, quando a gente tiver um cenário mais tranquilo de imunizados com a 1ª dose, a gente reduz o prazo para completar a imunização", justificou Rodrigo Cruz sobre o atual prazo de três meses.

 

Outras vacinas. Em relação ao imunizante Oxford/astrazeneca, o Ministério da Saúde também têm recomendado a adoção da janela máxima entre as doses (três meses), mas alguns governos locais – a exemplo do Rio e do Distrito Federal – liberaram a aplicação das duas doses na tentativa de conter o avanço da Delta. Especialistas se dividem sobre essa política.

O prazo máximo para a 2ª aplicação da Coronavac é de 28 dias. E a Janssen, a quarta vacina usada na campanha do Brasil, é de dose única.

Coronavac. No domingo, estudo preliminar de pesquisadores chineses indicou que uma 3.ª dose da Coronavac, vacina da farmacêutica Sinovac, cria um impulso no nível de anticorpos. A pesquisa deixa claro que a decisão de dar a dose adicional deve levar em conta muitos fatores, como situação epidemiológica, efetividade das vacinas e a oferta de imunizantes.

O estudo, com 540 adultos mostrou que o nível de anticorpos neutralizantes cai após seis meses da 2.ª dose e volta a subir após a 3.ª dose. A queda de anticorpos neutralizantes não significa que vacinados com a Coronavac estão desprotegidos, diz Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações. Anticorpos são apenas um componente de defesa. Pesquisas sobre hospitalizados após a vacinação são melhores indicativos da eficiência dos imunizantes e da eventual necessidade de reforço.

 

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Saúde descarta aplicar 3ª dose de vacinas

 

A secretária extraordinária de Enfrentamento à covid-19 do Ministério da Saúde, Rosana Leite, descartou que seja feita a aplicação de terceira dose – ou dose de reforço – de qualquer que seja o imunizante no País. No lugar, Rosana afirmou que a pasta já discute o calendário vacinal do próximo ano, o que será motivo de fórum entre especialistas brasileiros e comunidade internacional.

"Não recomendamos ainda terceiras doses de quaisquer que sejam os imunizantes. Essas tratativas são motivos de estudos, de análises, aqui no Ministério, através das nossas Câmaras Técnicas", disse Rosana.

Ela destacou que o governo tem reforçado campanhas de imunização contra a covid-19 em regiões fronteiriças com o objetivo de impedir a entrada e disseminação da variante Delta – "a maior preocupação do Ministério da Saúde", segundo ela.

 

Coronavac. No domingo, estudo preliminar de pesquisadores chineses indicou que uma 3.ª dose da Coronavac, vacina da farmacêutica Sinovac, cria um impulso no nível de anticorpos. A pesquisa deixa claro que a decisão de dar a dose adicional deve levar em conta muitos fatores, como situação epidemiológica, efetividade das vacinas e a oferta de imunizantes.

O estudo, com 540 adultos mostrou que o nível de anticorpos neutralizantes cai após seis meses da 2.ª dose e volta a subir após a 3.ª dose. A queda de anticorpos neutralizantes não significa que vacinados com a Coronavac estão desprotegidos, diz Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações. Anticorpos são apenas um componente de defesa. Pesquisas sobre hospitalizados após a vacinação são melhores indicativos da eficiência dos imunizantes e da eventual necessidade de reforço.