Título: Ovo, de novo
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 07/09/2005, Rio, p. A13

Com poucas opções no cardápio, grávidas e funcionários das maternidades municipais Herculano Pinheiro, em Madureira, e da Praça 15, no Centro, estão comendo ovo frito, ovo cozido ou omelete no almoço e no jantar. A denúncia é do vereador Carlos Eduardo de Mattos (sem partido), vice-presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal. Segundo o vereador, a dieta do ovo está sendo servida há seis dias como prato principal. As refeições são acompanhadas de purê de inhame. A restrição no cardápio teria sido em decorrência dos atrasos nos pagamentos da prefeitura à empresa responsável pelo serviço nas unidades. Em vistoria na Maternidade Herculano Pinheiro, segunda-feira pela manhã, o vereador constatou que as 32 grávidas internadas comeram ovo no jantar e almoço. Ainda segundo Carlos Eduardo, por causa da dieta, apenas a metade dos 120 funcionários está almoçando na unidade. Um bilhete afixado no refeitório da maternidade mostra a insatisfação com as refeições: ''O cardápio servido nesta unidade tem sido elaborado pesa firma Panflor a revelia da chefia de Nutrição Dietética e da Direção Geral''. No bilhete, os representantes da unidade classificaram cardápio como de ''segunda categoria, consistência e variedade questionáveis''.

- Além de ser rico em colesterol, o ovo não é suficiente para recuperar pacientes submetidos a cirurgia - preocupa-se o vereador Carlos Eduardo.

Segundo a nutricionista do Instituto de Cardiologia de Laranjeiras, Paula Costa Leite, a gema do ovo contém 210 miligramas de colesterol. De acordo com ela, a recomendação para população saudável é de 300 miligramas. A nutricionista explica que o excesso de colesterol na alimentação pode levar a dislipidemia (colesterol alto no sangue), um dos fatores de risco para doenças cardiovasculares.

- Apesar da proteína da clara ser de alto valor biológico, a gema contém valor elevado de colesterol que, quando somadas aos outros alimentos do cardápio fica acima do recomendável - avalia a nutricionista.

Na segunda-feira, o cardápio do almoço da Herculano Pinheiro foi salada de pepino, ovo frito, purê de inhame e refresco de abacaxi. No jantar, a refeição completa tinha beterraba, ovo cozido, batata sauté e refresco de limão. As pacientes se alimentaram de pão francês e café com leite no café da manhã e no lanche.

- O cardápio pobre em frutas e vegetais gera uma deficiência de vitaminas e minerais essências para a saúde da mulher e do bebê - explica Paula.

De acordo com o vereador, a Panflor, responsável pela alimentação das duas unidades, está com os pagamentos atrasados. A empresa comunicou aos funcionários da Herculano Pinheiro que a prefeitura está com oito meses de atrasos nos pagamentos. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde admitiu problemas com a alimentação na Maternidade Herculano Pinheiro e informa que está tomando providências em relação à Panflor. A prefeitura nega que o cardápio também esteja restrito na maternidade da Praça 15.

- Esta situação mostra a incompetência administrativa da Secretaria Municipal de Saúde - critica o vereador, que vai enviar um relatório sobre as maternidades para o Ministério Público estadual.

O deputado estadual Paulo Pinheiro (sem partido), presidente da Comissão de Saúde da Alerj, lembra que há problemas com o cardápio em outras unidades de saúde.

- No Hospital Estadual Pedro II, em Santa Cruz, foi alterado o cardápio para os funcionários. Em vez de carne, estão sendo servidos embutidos - denuncia o deputado.