Correio Braziliense, n. 21602, 09/05/2022. Cidades, p. 14

Violência de gênero marca fim de semana das mães

Ailim Cabral


O fim de semana foi marcado por casos de violência de gênero. No primeiro crime, praticado na manhã de sábado, uma mulher foi encontrada morta e queimada em Samambaia. A segunda ocorrência foi registrada em Brazlândia, na noite de sábado.

Uma mulher de 45 anos foi esfaqueada no ombro pelo companheiro. O casal chegou em casa, na Vila São José, depois de um passeio em um quiosque de churrasco e começou a discutir.

O suspeito, um homem de 46 anos, disse em depoimento que, por volta das 23h30, a mulher pegou uma faca de cozinha e, em seguida, ele teria feito o mesmo, atingindo a companheira no ombro.

O homem ligou para o genro da vítima, dizendo que uma tragédia tinha acontecido e acionou, também, o Corpo de Bombeiros (CBMDF). Quando a mulher chegou ao Hospital Regional de Brazlândia, a equipe médica suspeitou de violência doméstica e acionou a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF).

O homem tem passagens por crimes enquadrados na Lei Maria da Penha, entre eles, lesão corporal no âmbito doméstico, injúria e ameaça. Ele foi preso em flagrante pela PMDF e vai responder por tentativa de feminicídio.

Esfaqueada e queimada
O caso mais chocante ocorreu na manhã de sábado. Por volta das 7h, vizinhos do Parque Gatumé, em Samambaia Norte, encontraram o corpo de uma mulher ainda em chamas. A vítima apresentava marcas de 22 facadas, além de mutilações e sinais de violência sexual. Ela foi abandonada na entrada da área de preservação, próximo à quadra 427, conjunto 1, de Samambaia, cerca de 10 metros dentro do mato.

A mulher estava nua, com o vestido largado ao lado. As marcas de facada estavam apenas na região acima do abdômen. O fogo consumiu quase toda a metade inferior da vítima e pode esconder sinais de mais ferimentos.

A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) apagou as chamas e acionou as outras forças de segurança. Rodrigo Carbone, delegado da 28ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte) e responsável pela investigação, chama atenção para a brutalidade do crime.

"Foram muitos golpes, mais de 20 só na área que não foi atingida pelo fogo. É muito provável que tenha sofrido outras lesões na região do abdômen. Ela tinha, também, ferimentos de defesa nos braços", revela.

Entre as diversas lesões, um corte grande e profundo no pescoço se destacava. O corpo ficou muito deteriorado da cintura para baixo, elementos que fortalecem as suspeitas de crime sexual. As mãos fechadas, carbonizadas e separadas do corpo dificultaram a identificação da mulher.

Abandono e descaso
O Parque Gatumé, em estado de completo descaso, fica em uma área de proteção ambiental e tem cerca de 150 mil hectares. Próximo da via principal de Samambaia Norte, com mato alto — mais de um metro de altura —, e sem iluminação própria, é uma área propícia para a violência.

Os moradores da região afirmam que as ocorrências são comuns. Os postes da rua não ajudam na sensação de segurança, somente dois deles estão funcionando. Após o anoitecer, todos fecham as janelas e trancam os portões.

O desleixo com o parque é uma reclamação antiga. Reportagens veiculadas pelo Correio em 2010 mostram reclamações da população com a falta de cuidado com a área de proteção ambiental.

A preocupação estava mais voltada à conservação do parque, moradores costumavam se reunir para retirar lixo do local e denunciar a ação de grileiros e criação de gado. Pouco foi feito desde então e há mais de dez anos os vizinhos já relatavam casos de violência e barulhos de tiros.

Por meio do então assessor da Superintendência de Áreas Protegidas, Luiz Otávio França Campos, o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) esclareceu, na época, que não existia previsão de melhorias no parque.

Para uma posição atual, nossa equipe entrou em contato com o instituto, mas ainda não obteve retorno.

Feminicídio no DF
» Foram quatro casos nos primeiros três meses de 2022
» O mesmo período teve 16 tentativas
» Em 2021, foram registrados 25 casos de feminicídio
» Desde 2015, o Distrito Federal registrou 165 vítimas do crime até o dia 31 de dezembro de 2021. Entre eles, 132 se mantêm na tipificação.
» Dados da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) e da Câmara Técnica de Monitoramento de Homicídios e Feminicídios

Violência doméstica, onde pedir ajuda?
Veja abaixo como e onde pedir ajuda no Distrito Federal em caso de violência doméstica

» Ligue 190: Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Uma viatura é enviada imediatamente até o local. Serviço disponível 24h por dia, todos os dias. Ligação gratuita.
» Ligue 197: Polícia Civil do DF (PCDF). E-mail: denuncia197@pcdf.df.gov.br. WhatsApp: (61) 98626-1197. Site: https://www.pcdf.df.gov.br/servicos/197/violencia-contra-mulher.
» Ligue 180: Central de Atendimento à Mulher, canal da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres. Serviço registra e encaminha denúncias de violência contra a mulher aos órgãos competentes, além de reclamações, sugestões e elogios sobre o funcionamento dos serviços de atendimento. A denúncia pode ser feita de forma anônima, 24h por dia, todos os dias. Ligação gratuita.
» Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher (Deam): funcionamento 24 horas por dia, todos os dias.
Deam 1: previne, reprime e investiga os crimes praticados contra a mulher em todo o DF, à exceção de Ceilândia. Endereço: EQS 204/205, Asa Sul. Telefones: 3207-6172 / 3207-6195 / 98362-5673. E-mail: deam_sa@pcdf.df.gov.br.
Deam 2: previne, reprime e investiga crimes contra a mulher praticados em Ceilândia. Endereço: St. M QNM 2, Ceilândia. Telefoes: 3207-7391 / 3207-7408 / 3207-7438.
» Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. WhatsApp: (61) 99656-5008 — Canal 24h.
» Secretaria da Mulher do DF. WhatsApp: (61) 99415-0635.
» Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Promotorias nas regiões administrativas do DF. www.mpdft.mp.br/portal/index.php/promotorias-de-justica-nas-cidades.
» Núcleo de Gênero. Endereço: Eixo Monumental, Praça do Buriti, Lote 2, Sala 144, Sede do MPDFT. Telefones: 3343-6086 e 3343-9625. E-mail: pro-mulher@mpdft.mp.br.
» Defensoria Pública do DF. Núcleo de Assistência Jurídica de Defesa da Mulher (Nudem). Endereço: Fórum José Júlio Leal Fagundes, Setor de Múltiplas Atividades Sul, Trecho 3, lotes 4/6, BL 4 Telefones: (061) 3103-1926 / 3103-1928 / 3103-1765. WhatsApp (61) 999359-0032. E-mail: najmulher@defensoria.df.gov.br. site: www.defensoria.df.gov.br/nucleos-de-assistencia-juridica/.
» Núcleos do Pró-Vítima
Ceilândia. End.: Shopping Popular de Ceilândia – Espaço na Hora. (61) 9 8314-0620. Horário: das 8h às 17h.
Guará. End.: Lúcio Costa QELC Alpendre dos Jovens — Lúcio Costa. (61) 9 8314-0619. Horário: das 8h às 17h.
Paranoá. End.: Quadra 05, Conjunto 03, Área Especial D — Parque de Obras. (61) 9 8314-0622. Horário: das 8h às 17h.
Planaltina. End.: Fórum Desembargador Lúcio Batista Arantes, 1º Andar, Salas 111/114. (61) 9 8314-0611 / 3103-2405. Horário: das 12h às 19h.
Recanto das Emas. End.: Estação da Cidadania — Céu das Artes, Quadra 113, Área Especial 01. (61) 9 8314- 0613. Horário: das 8h às 17h.
Rodoferroviária. End: Estação Rodoferroviária, Ala Norte, Sala 04 — Brasília/DF. (61) 98314-0626 / 2104-4288 / 4289. Horário: das 8h às 17h.
Itapõa. End.: Praça dos Direitos, Quadra 203 – Del Lago II (61) 9 8314-0632. Horário: das 8h às 17h.
Taguatinga. End.: Administração Regional de Taguatinga — Espaço da Mulher — Praça do Relógio. (61) 98314-0631. Site: https://www.sejus.df.gov.br/pro-vitima/.