O Estado de S. Paulo, n. 46653, 11/07/2021. Economia, p. B2

A conta de luz subiu. Vale a pena optar pela solar?
Celso Ming


A conta de luz ficou mais cara. Só em julho, a paulada é, em média, de 8,12%. E não é coisa apenas ocasional. O sistema elétrico tem graves problemas estruturais cujas soluções levarão tempo. Vale a pena instalar energia solar em casa ou no estabelecimento comercial? Nesta Coluna vão algumas indicações dos custos e do retorno de um investimento desses.

O interesse em projetos de geração distribuída, em que a energia elétrica é gerada próximo ou no local de consumo por meio de sistemas de captação de luz solar instalados em telhados de residências, condomínios, casas de comércio, fábricas e edifícios está aumentando e deverá crescer ainda mais com o encarecimento do quilowatt-hora. Apenas de janeiro a maio, a procura por instalações no País cresceu 117%, como informa o marketplace Portal Solar.

Mesmo com o aumento dos custos em consequência da alta do dólar, 132,7 mil usinas fotovoltaicas foram instaladas no País no primeiro semestre deste ano, o que corresponde a um acréscimo de 1,3 gigawatts (GW) de potência instalada. A geração solar distribuída atingiu a marca de 6 GW no fim de junho. (Para comparar, a potência de Itaipu é de 14 GW.)

Embora os preços da tecnologia tenham caído, o custo de um projeto completo de energia solar fotovoltaica residencial varia entre R$ 15,8 mil e R$ 36,0 mil, com tíquete médio entre R$25 mil e R$29 mil, como informa Rodolfo Meyer, fundador do Portal Solar. (Veja tabela.)

O cálculo do valor dos projetos leva em consideração o custo de instalação, homologação do sistema, garantias dadas aos equipamentos e manutenção. Como variam a localização, o tipo do imóvel e a tecnologia utilizada, o preço final e o prazo de retorno do investimento também variam. Tendem a valer mais a pena nos estabelecimentos comerciais. Na cidade de São Paulo, por exemplo, um sistema de R$ 29 mil, mais apropriado a residências, deve pagar-se em cerca de cinco anos, avalia Rodolfo Meyer. O mesmo sistema instalado em Minas Gerais ou no Nordeste terá retorno mais rápido, de aproximadamente 3,5 anos, porque conta com mais incidência solar e enfrenta tarifas mais altas da energia convencional. Como os painéis estão mais eficientes e tendem a ter entre 25 e 30 anos de vida útil, nas condições atuais sobram duas décadas de rentabilidade.

Boa parte desses investimentos pode ser financiada por meio de crédito direto das linhas para desenvolvimento de energias sustentáveis oferecidas pelos bancos ou cooperativas de crédito. O crescimento do mercado fez emergir novo nicho: o das startups especializadas em financiar os equipamentos. "Temos percebido redução no perfil de renda do público que tem buscado financiamento. As pessoas estão sendo pressionadas pela alta da conta de luz e se dando conta de que o investimento compensa. Em cerca de 70% dos casos, a parcela do financiamento é mais baixa do que o que se paga mensalmente pela energia. Em nossa carteira, o prazo médio para o pagamento do financiamento varia entre 50 meses e 84 meses e vem cabendo no orçamento do consumidor", observa Rodolfo Meyer.

Com o mercado aquecido, novas soluções vêm aparecendo. Uma delas é a de aluguel de painéis. A modalidade é oferecida pela Solar21, que atua em projetos residenciais em Brasília, Região Metropolitana de São Paulo, Campinas e projetos-piloto em Salvador.

Apesar do barateamento da tecnologia, Julien Dias, diretor da Economize-Energia, empresa que oferece serviços de gestão de energia, adverte que, em parte dos casos, investir em sistemas fotovoltaicos não é a melhor solução. Existe a possibilidade de revisão do contrato com a distribuidora para escolher a modalidade tarifária mais adequada ao perfil de consumo ou migrar para geração distribuída. Uma opção na geração distribuída é o modelo de geração compartilhada, em que um grupo de consumidores situados na mesma área de atendimento da concessionária pode se unir em consórcio ou cooperativa para instalar uma usina em local diferente das unidades consumidoras e todos utilizarem da energia e os créditos gerados pelo saldo positivo de energia elétrica inserida na rede. "Isso pode resolver o problema dos altos custos com energia elétrica, porque a instalação de painéis solares para consumo no local envolve outros custos que precisam ser colocados no papel", pontua (...)

Comentarista de Economia