Título: Planalto prefere Chinaglia na presidência da Câmara
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 09/09/2005, País, p. A4
Diante da convicção de que a saída do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) da presidência da Câmara é uma questão de tempo, o Palácio do Planalto já começa a trabalhar nos bastidores pelo nome do líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), para sucedê-lo. As articulações foram deflagradas depois do aceno de setores da oposição favoráveis à escolha de um petista para suceder Severino Cavalcanti, conforme antecipou o Jornal do Brasil ontem.
A compreensão no governo é de que a situação do presidente da Câmara se tornou insustentável com a descoberta de um documento, assinado por ele na época em que era primeiro-secretário, autorizando a prorrogação até 2005 da concessão do restaurante Fiorella, localizado no 10º andar. E piorou, com a entrevista de ontem do empresário Sebastião Augusto Buani.
Embora oficialmente negue a interferência na sucessão de Severino, o governo avalia que Chinaglia se enquadraria no perfil exigido por PSDB e PPS para que seja respeitado o critério da proporcionalidade, segundo o qual, a maior bancada, no caso o PT, teria o direito de indicar o presidente: pessoa acima de qualquer suspeita, com reputação de idôneo, e que seria capaz de manter os compromissos de transparência e continuidade do processo de limpeza da imagem da Casa.
O Planalto acredita porém que o maior obstáculo à eleição de Chinaglia é o PFL. As sondagens preliminares feitas ontem por emissários do governo não foram bem sucedidas, avaliou um auxiliar do presidente. Apesar de apostar no vice José Thomaz Nonô (PFL-AL), que poderia se credenciar na disputa ao assumir o cargo em caso de afastamento de Severino, os pefelistas até aceitam negociar com o governo os nomes dos deputados José Eduardo Cardozo (PT-SP), Sigmaringa Seixas (PT-DF) e Paulo Delgado (PT-MG).
Cardozo e Sigmaringa preferem não comentar o assunto, mas tiveram seus nomes cantados em verso e prosa ontem no PPS e PSDB.
- Tanto Sigmaringa Seixas (PT-DF) quanto José Eduardo Cardozo (PT-SP) seriam bons candidatos - disse ontem o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).
O Planalto também veria com bons olhos se o futuro presidente da Câmara fosse escolhido entre os dois petistas. Mas, hoje, os teria como cartas na manga no caso de uma reação a Chinaglia. Sigmaringa é amigo pessoal de Lula ao passo que Cardozo, que teve atuação de destaque na CPI dos Correios, se cacifou no governo e poderia até angariar apoio de setores do PFL liderado pelo deputado ACM Neto (PFL-BA).
Os movimentos dos operadores políticos do governo, contudo, ainda são tímidos. Até porque o governo sabe que o atual momento impõe cautela e um nome para cair nas graças do Congresso teria de ser eleito pelo consenso, sem disputa, quase que ungido. Mas ao mesmo tempo, a possibilidade de um oposicionista assumir a Câmara no atual momento de crise aflige o Planalto, ainda assombrado pelo fantasma do impeachment. O governo tem consciência de que precisa se articular com rapidez para evitar que uma nova derrota em plenário fragilize ainda mais o presidente Lula.
Ontem, sempre se cercando de cuidados para não deixar transparecer uma tentativa de ingerência, afinal Severino ainda permanece no cargo, emissários palacianos trataram de disseminar a tese de que foi um erro no início do ano o rompimento com o princípio da proporcionalidade para a definição do presidente da Câmara. E que, diante da crise, nada como retomar o acordo por tantas vezes honrado na Casa. A proposta, uma espécie de preparação de terreno com o objetivo de formar uma convicção geral pela conveniência de um petista na presidência, ganhou a adesão de setores de PSDB, PFL, PSB e até PPS.