Título: Claque contratada por petistas aplaude Lula no Peru
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 09/09/2005, País, p. A5

Uma claque de cerca de 600 pessoas, formada em sua maioria por militantes do PT, viajou 11 horas e 500 km de ônibus de Rio Branco, no Acre, até Puerto Maldonado, no sul do Peru, para aplaudir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no lançamento das obras de pavimentação da rodovia Interoceânica, que permitirá a ligação do Norte do Brasil ao oceano Pacífico. Alguns manifestantes disseram ter sido mobilizados por prefeituras petistas no Acre, como as de Brasiléia e Xapuri, que deram ponto facultativo aos funcionários públicos. Em Puerto Maldonado, eles estenderam faixas de apoio e gritaram frases como ''Lula é nosso amigo, mexeu com ele mexeu comigo''.

Os organizadores da caravana divergiram em relação a seu financiamento e custo. O governador do Acre, Jorge Viana (PT), que viajou no carro oficial, afirmou que sua administração não pagou a alimentação nem os 14 veículos, incluindo 6 ônibus.

- Várias pessoas do Acre pagaram os ônibus. Empresários, entidades e associações que se juntaram - disse o governador.

Já os manifestantes disseram que foram convidados pelo governo do Acre a fazer a viagem, com as despesas pagas. A maioria saiu de Rio Branco por volta das 23h de quarta-feira e chegou em Puerto Maldonado às 9h de ontem.

Eles só viram o presidente Lula duas horas mais tarde, depois que ele e os presidentes do Peru, Alejandro Toledo, que também está com a popularidade abalada, e o presidente da Bolívia, Eduardo Rodríguez, se deslocaram em carro aberto pelas ruas da cidade, sob os aplausos de pedestres e estudantes, para chegar no km 13 da Rodovia Interoceânica.

A crise brasileira só foi mencionada durante o discurso do presidente peruano. Argumentando ter experiência em situações de crise, Toledo - que enfrenta seu pior índice de popularidade no país devido a denúncias de falsificação de registro de seu partido nas eleições de 2001 - , disse palavras de encorajamento a Lula e aos presidente boliviano.

- Por experiência própria quero lhes dizer uma coisa. Os nossos países estão cheios de esperança e de crises. Rogo a Deus que na Bolívia a crise se resolva pela democracia. E você, Lula, lhe digo: coragem, não tenha medo das pedras no caminho. Ladram, Sancho (Pança, fiel escudeiro de Dom Quixote), porque estradas estamos fazendo - disse Toledo.

O lugar dos discursos era um descampado no meio da floresta, no qual o governo peruano montou um palanque central para os presidentes falarem. A claque brasileira ficou 400 metros distante do palanque. Entre as 5.000 pessoas presentes, segundo a Polícia Nacional do Peru, os brasileiros gritavam o nome de Lula.

Havia apenas uma bandeira do PT com os manifestantes. Outra bandeira vista entre a claque era de militantes do PC do B.

- Trouxemos 60 pessoas, com despesas pagas pelo partido - disse Perpetua Almeida, deputada federal.

Ana Carvalho de Oliveira, militante do PT em Brasiléia, afirmou que veio em um dos ônibus a convite de Jorge Viana.

- É um momento importante para prestigiarmos o presidente Lula. Quem pagou a viagem foi o governo.

Um dos coordenadores da viagem, o petista Carlos A. de Araújo, disse que a administração de Jorge Viana pagou as 400 camisetas e 100 bandeiras, mas não a viagem. As bandeiras não tinham referência ao PT e diziam: ''Lula: integração Brasil-Peru. O Acre agradece''.