Título: Começa a briga do referendo das armas
Autor: Luiz Orlando Carneiro e Sergio Duran
Fonte: Jornal do Brasil, 09/09/2005, País, p. A6

No primeiro dia de campanha educativa realizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre o referendo que irá consultar a população sobre a proibição da venda de armas e munição no país, o deputado Jair Bolsonaro (PFL-RJ) - contrário à proibição - declarou que é ''um infrator em potencial'' da nova lei, caso seja referendada. No referendo que será realizado no dia 23 de outubro, os eleitores deverão responder na urna eletrônica ''sim'' ou ''não'' à pergunta: ''O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?''

- Corro o risco de ser um infrator em potencial da Lei. Imagino que a proibição vai estimular as pessoas a terem armas frias e munições compradas no câmbio negro. Assim como existem bocas de fumos, teremos as bocas de fogo. Não vou deixar que minha família fique vulnerável - disse o deputado Jair Bolsonaro, conhecido como líder da ''bancada da bala''.

Bolsonaro integra a frente parlamentar ''Pelo Direito da Legítima Defesa'', que ontem conseguiu suspender campanha publicitária do Instituto Sou da Paz, veiculada na internet, para que os eleitores optem pelo ''sim''.

O ministro José Gerardo Grossi, do TSE, acolheu representação da frente favorável ao ''não'', que provou ter a organização não-governamental recebido 68 mil dólares de pessoa jurídica estrangeira, a Ford Foundation. A doação é proibida pela legislação.

A frente ''Brasil Sem Armas'', liderada pelo deputado Raul Jungmann (PPS-PE), é a responsável pela propaganda favorável ao ''sim'', pelo desarmamento. As duas frentes iniciam propaganda obrigatória em TV e rádio no próximo dia 1º de outubro. Elas terão dois blocos diários de 9 minutos, além de 10 minutos de inserções ao longo da grade de programação. As inserções do TSE iniciadas ontem vão explicar o referendo ao eleitor e orientá-lo como votar.

- Vamos mostrar dados de quantas pessoas morrem por armas de fogo no país. Usaremos o apoio de artistas e casos testemunhais - revelou Jungmann sobre a estratégia da campanha.

A proibição já consta no Estatuto do Desarmamento aprovado em julho deste ano na Câmara dos Deputados por 258 votos contra 48. Mas somente com o referendo o trecho que fala da proibição de armas terá validade. O voto é obrigatório para os eleitores entre 18 e 70 anos.