Título: Câmbio e juros derrubam indústria
Autor: Sabrina Lorenzi e Cristina Borges Guimarães
Fonte: Jornal do Brasil, 09/09/2005, Economia & Negócios, p. A19

A produção industrial caiu 2,5% em julho, em relação a junho, depois de quatro meses consecutivos de aumento, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE). Foi o maior recuo da indústria dos últimos 30 meses. A queda ocorreu em todos os segmentos, mas foi mais intensa no setor de bens de capital - máquinas e equipamentos - que recuou 7,6%, sob o efeito dos juros altos e do real forte, que tem incentivado as importações.

Dos 23 ramos investigados, 20 reduziram produção neste período. Os setores mais afetados foram os de veículos automotores (-4,6%), material eletrônico e equipamentos de comunicações (-10,7%) e máquinas e equipamentos (-5,7%).

A produção de bens de capital, termômetro de investimentos e que vinha liderando o crescimento do setor e do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país), voltou a um patamar de produção menor do que o verificado há um ano: na comparação com julho do ano passado, a queda foi de 4,4%.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello, aponta o câmbio e a taxa de juros como dois fatores negativos ao desempenho do setor.

- O crescimento das importações de bens de consumo para substituir a produção nacional faz com que caia a demanda por máquinas no país.

Em sua opinião, a política monetária prejudica o setor mais do que a crise política.

- A manutenção dos juros altos atrai capital especulativo e valoriza o real. Se essa política monetária for mantida, prejudicará a indústria de máquinas e equipamentos também no ano que vem - diz.

Embalada até então pelo crédito, a indústria de bens de consumo duráveis inverteu a tendência e apresentou a segunda maior queda do setor: 5,9%. A produção de bens intermediários caiu 1,9%, após quatro meses de expansão; a de bens de consumo semiduráveis e não-duráveis, com decréscimo de 0,9%, voltou a um patamar ligeiramente superior ao de abril.

No ano, a expansão da indústria foi de 4,3%, ante o avanço de 5% nos primeiros sete meses de 2004.

O economista André Macedo, do IBGE, explica que, enquanto a produção recuou 2,5%, as vendas encolheram apenas 0,3%, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

- A queda da produção seria, portanto, uma tentativa da indústria de fazer um ajuste nos estoques - afirmou.

Os únicos setores que cresceram foram os de refino de petróleo e produção de álcool (2,6%), farmacêutica (4,2%) e celulose e papel (1,7%).

Apesar do recuo da indústria, o analista da LCA Consultores Braulio Borges, acredita que o setor continuará crescendo além da média da economia.

- Os efeitos de câmbio e juros já afetaram o desempenho do setor no primeiro semestre, que mesmo assim surpreendeu positivamente - afirma Borges, que aposta em um aquecimento dos investimentos da indústria, que garantirão seu crescimento no semestre.